quarta-feira, 30 de junho de 2010

Post #164 (#152 Pt. XI)

A gente já não tinha mais o que pensar de ruim. Éramos pessoas bem pessimistas, na realidade. Conseguimos imaginar escuridão em um campo de flores. Nos sentimos culpados, abraçados, pensando o pior que poderia vir com Clara. Ainda hoje, imagino que nosso pensamento negativo, foi quem levou Clara embora de nossas vidas. Clara morreu naquela noite mesmo, sem a família por perto, sem os outros amigos - tinha muitos, era bem sucedida socialmente - apenas nós lamentando sua triste perda. Bárbara perdia, naquele instante, uma parte dela mesma. Ela parecia não acreditar. Ela não queria acreditar, vendo que Clara não estaria mais junta, começou a pensar em coisas mais sérias. Com quem ela iria morar agora? Com quem iria dividir o aluguel do apartamento? Com quem iria dividir os segredos e contar as novidades? Sentiu falta da sua boneca.
Ao ver Bárbara sofrendo calada daquele jeito, confusa demais com tudo o que estava ao seu redor, resolvi tentar lhe ajudar. Não havia mais motivos para não tentar ficarmos mais próximos. Ofereci-lhe, assim, um cantinho de teto no meu apartamento. Disse que não precisava de aluguel e que o seu café eu mesmo passava. Ela pensou um pouco, mas no final acabou aceitando. Ela estava segura comigo e ela sabia disso.

- Mas, querido, será que o Doyle não vai estranhar a minha presença?
- Se ele não quiser você lá dentro, te boto para fora de casa! - em tom irônico
- Então ok...
- Não seja besta, é claro que estou brincando. Mas, se ele não gostar de ti, terão de aprender a viver sob o mesmo teto. E que sua raiva de gatos não se torne uma pedra nesse caminho, entendido?
- Entendido!

Naquela noite mesmo, fomos ao seu apartamento pegar umas roupas dela para que pudesse passar a noite comigo - dormindo separados. Ficamos combinados dela não ir ao trabalho, para tentar se recuperar dessa perda que sofreu. Ela ficava em casa enquanto eu, antes de ir ao meu trabalho, iria ao sebo conversar com seu superior. Acabou dando tudo certo. Fui ao sebo, fui ao trabalho normalmente. O melhor do meu dia foi chegar e ver um sorriso naquela boca. Eu estava cada dia me sentindo melhor e Bárbara sabia que era ela a culpada disso tudo. Na manhã seguinte, passou em seu trabalho pedir permissão ao chefe para resolver os problemas de sua antiga casa. Fiquei feliz demais ao saber que, estávamos, enfim, morando juntos.

- Agora você se fodeu!
- Por quê? Consegui tudo o que queria. Tenho meu gato e minha namorada junto de mim. Me sinto um adolescente descobrindo a vida. De vinte e oito anos, mas ainda assim adolescente.
- Não interessa. Você vai ser minha cobaia para tudo. Já que Clarinha agora é ausente, quem vai provar meus bolos e outras coisas que faço na cozinha será você!
- Tudo bem, até hoje eu só sei comer comida congelada. Ter uma chefe de cozinha particular vai ser ótimo!
- Vou ter que te fazer cócegas e te passar maquiagem também. Você vai ser minha melhor amiga, só que com barba...
- Eu posso ser sua melhor amiga, mas sem a maquiagem, né?
- Eu estava só brincando com você, bobo! - disse-me isso usando o mesmo sorriso que me conqusitou.
- Precisamos melhorar esses nossos pensamentos ruins. Ao seu lado, agora, quero descobrir como é pensar coisas legais. Parar de procurar maldade em todas as coisas que me cercam!
- Com o tempo a gente aprende. Você me ensina.

Dei um beijo em sua testa e fui ao sofá para dormir, enquanto ela foi para o banheiro tomar um banho. Eu deveria ter pensado melhor antes de me apaixonar por Bárbara, ela era uma péssima cantora.

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