segunda-feira, 28 de junho de 2010

Post #160 (#152 Pt. IX)

Bárbara insistia em querer saber do meu passado. Mesmo sabendo que eu não gostava de tocar nesse assunto, ela fazia manha e me falava com uma voz tão doce que uma hora eu tive de ceder. Ela me perguntou sobre meus pais, disse-a que morreram quando eu tinha vinte e cinco e que antes disso minha vida era mais legal. Contei que antes deles partirem, eu me apoiava neles como base para tentar ascender nessa minha vida. Depois, pensei em morrer. Minha autoestima nunca foi minha virtude. Eu sempre fui pessimista e fazia drama para tudo. Me perguntava como eu era com as "menininhas" e ela não acreditava no que eu dizia. Contei que até os dezessete anos, havia beijado duas garotas. Contei que eu morria de amores em segredo, coisa que fiz até dizer-lhe o que sentia. Ela me disse que eu deveria ter parado de ser assim já na adolescência. Disse-me isso como se me observasse desde então. Ela me entendia tão bem, que às vezes achava que ela era eu. Em pouquíssimo tempo, ela conseguiu bagunçar todo esse meu coração cansado de mágoas na adolescência. Eu de fato odiava falar na minha juventude.
Eu perguntava como ela era quando mais jovem. Me falou que sempre foi a menina mais esperta da classe, que sempre tinha as melhores notas e sempre servia de exemplo para todas as coisas boas. Ela ria quando eu dizia que duvidava disso tudo. A parte amorosa de sua vida jovem, ela não quis me dizer, mesmo eu dizendo todo o fracasso que eu era. Ela dizia que não queria me deixar triste contando coisas que não iriam me fazer sentir bem, pois, disse que não era tão diferente do que eu era. Se eu era essa coisa patética e já ficava triste por mim, nem quis saber, que era para não ficar triste por quem eu zelava. Me contou que teve um gato (!) e que passou a odiá-los após esse gato rasgar uma de suas bonecas. A favorita. Sua mãe tentava explicar que ele não sabia o que fazia, que era muito filhote, mas Bárbara não entendia. Ela amava aquela boneca mais do que a si mesma. Dizia ser sua melhor amiga. Convenhamos que um gato é bem melhor que uma boneca...
Ao perguntar do seu pai, ela falava com orgulho. Não perguntei muito, pois não quis me intrometer demais. Mas o que deu a entender, é que ela gostava mais do pai do que da mãe. Seu irmão era chato, enchia seu saco toda momento, ouvia músicas ruins e gostava de carros. Típico. Hoje ganha a vida na Austrália e vive muito feliz esposa e filhas, como já havia me dito.
Enquanto a gente conversava sobre sua vida, seus pais, hábitos, eu insistia em saber sobre a vida amorosa, até que ela resolveu abrir o jogo. Quando tinha dezesseis anos, ela começou a gostar de uma menino que conhecera uns anos antes. Resolveu contar ao menino e começaram a trocar uns beijos às escuras. Eram bem reservados e não queriam que virasse algo muito público, o que acabou não acontecendo. O que Bárbara não sabia, é que um amigo seu adorava ela, ela era extremamente fofa com ele - mesmo? - e ele era apaixonado por ela sem dizer nada. Pelo o que me disse, coitado, não era bem sucedido de coração. Quando contou à ela sobre tais sentimentos, Bárbara não soube o que fazer. Gostando de um menino que se mostrava indiferente e tendo um amigo tão carinhoso ao lado implorando por um abraço apertado. Essa era a tão temida coisa que tinha para me falar. Ela se odiava por conta disso, ainda hoje. Tentei confortar-lhe dizendo: "Querida, tenho certeza que coisas assim acontecem ainda hoje."...

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