quinta-feira, 31 de outubro de 2013

The suicide file

Saí de casa às quatro da madrugada
sobre meu cabelo oleoso só caía garoa
Em sua casa eu me escondia na sala gelada
No teu navio eu comandava da proa.

Queria ter de volta todas as carícias que te dei
e ter dado todos os beijos que você recusou
Queria ter sido mais forte todo momento que fraquejei
mas ser forte nunca foi uma mostra de quem eu sou.

Te amo.

sábado, 19 de outubro de 2013

Tudo por causa de um cigarro

Em Curitiba. Essa é a cidade. Essa cidade abriga um coração amargo. O coração em questão é o do garoto Daniel. Daniel era um rapaz comum, que tira seu sustento da empresa Rodopan S/A. A empresa fica numa cidade vizinha e ele, Daniel, acorda todos os dias às cinco da madrugada para chegar no trabalho por volta das sete. Quando dá sorte, chega um pouco mais cedo e consegue bater o dedo no horário. Daniel tem vinte anos e sonha em ser arquiteto. Se ele estuda para isso? Não, ele pensa que a chance de se formar numa boa faculdade vai cair do céu.

Daniel mora com os pais idosos e é o mais novo dos filhos do casal Helena e Roberto. Daniel tem um vício incontrolável por cigarro. Se os pais dele sabem? Não. Não sabem. E Daniel tenta esconder o vício quando está em casa. Só fuma quando os pais estão fora ou estão dormindo. Os pais dele fumam há mais de quarenta anos e não querem isso parar o filho mais novo e não planejado. Vê-lo fumando mataria os pobres velhos. Mataria de verdade, já que o cigarro ainda não os matou.

Simone é uma mulher comum. Mora na mesma cidade que Daniel. Na verdade, ambos moram no mesmo bairro. O que divide um do outro é um muro de mais ou menos um metro de altura. Simone é cabeleireira e tira seu sustento daí, trabalhando em casa. Simone tem um filho de oito anos. O pai? Um aposentado da polícia militar que vive da aposentadoria. Se ele é fiel? Como um bom policial, claro que não. Ninguém na casa vê sair e ninguém vê chegar. Aos domingos, ele, Marcos - “Marcão” - faz churrasco e faz fervo para todos os vizinhos ouvirem. Ninguém da vizinhança parece ir com a cara dele. Cara chato do caralho.

Marcos trai sua esposa cabeleireira indo até bordeis da cidade. Come todas as putas que vê com o dinheiro que era para ser do seu único filho. Simone desconfia das picaretagens do velho Marcos, mas, ele tem muitos contatos na polícia. Se ela tentar deixá-lo, como já fez, ele a confunde dizendo que arma uma tocaia cheia de drogas como cocaína pelo salão da pobre Simone. Marcos era um porco.

Eles moram na casa de esquina e do outro lado do muro há a família de Daniel. Eles - Marcos, Simone e Daniel - não conversam entre si. O máximo que Daniel troca de palavras com Marcos é um “bom dia” quando ele volta da farra. Com Simone a mesma coisa. Quando ela volta do mercado, deixa escapar um “boa tarde” da boca. Daniel é simpático e ingênuo. Não sabe muito das malandragens que podem acontecer à frente de seus olhos. E uma coisa muito estranha o destino agendou para essas três pessoas.

Numa noite quieta de quinta-feira, Daniel sai até o portão para fumar um cigarro enquanto os pais dormem em casa. O que ele não esperava era ver ela, Simone, do outro lado do muro. A moça de quarenta e dois anos o chama para que possam conversar:

- Ei!
- Olá.
- Eu sei o que você está fazendo.
- Do que está falando
- Disso. Desse cigarro nos seus dedos. Seus pais não sabem que você fuma.
- Não sabem. Você não contaria, não é?
- Quem sabe… Podemos fazer um trato?
- Que trato? - Daniel joga a bituca na rua.
- Você faz sexo comigo enquanto Marcos está fora.
- Dona Simone, isso é errado… O que ele iria pensar? Isso é muito errado!
- Ou é isso ou seus pais ficam sabendo agora mesmo. Posso fazer escândalo, se quiser.

Com muito custo, Daniel aceita a proposta da moça.

Marcos a essas alturas estava voltando para casa de mais uma noite cheia de vodka e cigarros paraguaios. Ele já não tem amor por Simone, se é que um dia ele sentiu amor pela pobre mulher, se é que uma criatura como ele consegue sentir amor por algo ou alguém. Mas sabe quando a treta é forte? Ele não sente nada por ela mas odiaria vê-la com outra pessoa. Com ela, ele sabe, que o sexo é garantido, ainda que ela não queira ter seus cento e vinte quilos debruçados pelos seios enquanto geme sem prazer. Marcos era um porco. Um porco gordo e grande.

Aconteceu. Simone disse para Daniel pular o muro e fazer dela mulher, enquanto seu filho, criança, dorme no outro quarto. Eles fazem sexo. Gozam como nunca - para Daniel foi uma experiência e tanto, já que o rapaz era virgem. Tinha como vontade estampada no rosto, perder a virgindade com alguém que gostasse, em sua própria cama em sua própria casa. Bem, a vida nem sempre - nunca - é justa. É claro que depois da primeira trepada, ele acendeu um cigarro.

- Por favor, não conte nada aos meus pais. Você teve o que quis.
- Tudo bem. Eu tive o que quis e foi incrível. Há tempos não me sentia assim, como uma mulher. Se isso for pecado, posso ir daqui do quarto direto para o inferno.

Eis que um carro vem encostando do lado de fora, perto da árvore. É Marcos. E Marcos nem sonha que ‘sua mulher’ está na cama com o vizinho.

- Rápido, se esconda. É ele!
- É o Marcão? Caralho, mulher, eu tô fodido!
- Esconda-se logo, idiota! Ele é capaz de te matar!

Não mais que de repente, Marcos entra pela porta da cozinha e a bate com força enquanto diz palavras sem nexo. Marcos está bêbado e deu uns raios no puteiro mais barato de Curitiba. Chegou em casa para fazer a mãe do seu filho. Quando põe os pés no quarto, percebe que ela, Simone, está aflita. Pergunta o que há e ela não sabe responder. Atrás dele, saindo do banheiro, está Daniel, cobrindo o pau com a camisa tentando sair de fininho - porra, é só pular o muro, ele nunca descobrirá!

Ao olhar pra trás e se deparar com o menino nu, Marcos surta! Surta!

- O que está havendo aqui? Que palhaçada é essa, mulher?! - Hey, garoto, é melhor fugir mesmo!

Enquanto Daniel foge, Marcos pega sua 38 na gaveta do criado mudo do quarto e sai atrás do jovem. Enquanto ele pula o muro com a bunda de fora, Marcos acerta dois tiros em suas costas. Daniel morreu ali mesmo, com o peito esfolado pelo muro com os braços do outro lado… E tudo isso por causa de um cigarro.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Minúsculo

parado na passarela para pedestres do viaduto
tiro da mochila todos os nãos que me deste
todo sentimento que foi recusado por ti
carrego, agora, junto da mais triste cipreste.
pequei ao tentar lhe dar um pouco do amor
que trago dentro desse meu peito inflamável
jogado às traças estou nesse momento
apenas por ter sido uma criatura amável.
tu não sabes manusear um coração que é de carne
e ainda assim, pegaste o meu como experimento
toda promessa de amor que me fizera
tornou-se um amontoado de lixo jogado ao vento.
peguei todo o amor que eu tinha
que você chutou
misturei aos abraços e beijos
que você recusou.
neste meu canto de casa, ponho-me a morrer até me recuperar e poder amar de novo.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Stay in solitude

Passei a tarde desta segunda feira sozinho em casa. Tive um fim de semana muito gostoso mas me senti mal do estômago, então, não fui à aula de hoje. Meu pai levou minha mãe ao centro para resolver uns problemas. Ela já tem sessenta anos e quer aposentar logo, porém, não sabe se vai dar para fazê-lo tão já.

Tive tempo de fazer muita coisa. Pensar sobre muita coisa. Experimentei por horas o que poderia ser uma prévia de como será morar sozinho. Tenho essa vontade desde um pouco mais jovem e cada dia que passa vejo esse sonho se realizando. Só que quanto mais eu penso nisso, mais fantasmas aparecem. É como tudo na minha vida. Se eu penso em fazer alguma coisa, por outro lado, invento razões para não dar certo.

Decidi aproveitar minha solidão - não só hoje, mas, sim, em todo momento que ela aparecer. Apreciar o fato de estar comigo mesmo. Apreciar as belezas do silêncio ou do canto dos pássaros perto da minha janela. Aproveitar a plenitude da solidão. Fui ao portão e fiquei lá por alguns minutos. Vi as pessoas que são minhas vizinhas andarem de um lado para o outro. Vi uma menina bonita que, agora, quero saber onde mora. Vi a cadela de estimação da Vanei. Vi conhecidos de anos passando de carro com som alto. Quando entrei pela porta da cozinha, tranquei-a. Coloquei o disco "Medo de avião" do Belchior para rolar e acendi um cigarro. Foi por medo de avião que segurei, pela primeira vez, a tua mão.

Colocando os prós e os contras se confrontando, percebi que ainda não estou preparado para morar sozinho. Talvez quando eu largar dos remédios ou comprar mais discos. Ainda não sei como me deleitar com esse meu banquete solitário. Ainda não estou pronto para ficar tantos dias, quem sabe meses, somente com a minha companhia. Tenho de aperfeiçoar isso para que eu me ame mais e, então, poder ficar mais tempo comigo mesmo.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

(tuas) mãos

aprendi uma valiosa lição sobre suas mãos
descobri que entrelaçadas às minhas
podem fazer o mais ardente fogo do nosso corpo
acender e transformar toda atmosfera
em um cantinho do mais puro e belo amor.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

A morte

Puta que pariu. Morri. Não tô crendo nisso. Eu morri. Finalmente. Que estranho, se eu me fui, por que estou sentindo dor de cabeça? Meus ossos não mexem mais. Minha cabeça continua me dizendo coisas, mesmo assim. Ainda consigo pensar. De que morri? Qual foi a causa? Uma pena não ter nenhum dos amigos por perto para me falarem como é que isso aconteceu.

Morri cedo. Morri jovem. Como Ian Curtis que queria morrer com tal número, morreu antes. Morri antes. Aqui onde estou agora, tem como trilha sonora aquela música instrumental do Agalloch. Mais fúnebre do que a própria marcha fúnebre. Vai ver isso coincide com minha causa mortis. Queria ter algum dos amigos aqui para saber como foi que morri. Minha memória está omitindo esta informação. Tô achando isso tudo muito confuso. Por que ainda estou a pensar? Como faço pra me mexer? O que vem depois da morte?

Morri e morreram comigo minhas dúvidas. Elas vão me acompanhar pra qualquer lugar que eu for.