sábado, 28 de fevereiro de 2015

tristeza é rebelião

amanhece mais um dia logo às três da manhã
fica até as sete horas no quarto fantasiando o luto
não merece a claridade e bondade
deste sol injusto
num ato falho que nasceu de um impulso
chorando deitado na cama
põe-se a dormir de bruço.

no meio da tarde levanta pra mijar
e pega um cigarro desbaratinado
quando chega a hora do almoço
como com louvor o rango requentado
pelos pais sente saudade de ser abraçado.

ao som de grey skies ele chora copiosamente
como era do seu feitio num passado recente
parece que ter medo voltou a ser recorrente
parece que o mau dia agora é permanente
lembrou de quando ganhava seu próprio dinheiro
e vivia sob o mau olhar de seu gerente.

ele lembra das garotas que cruzaram seu caminho
em meio às lágrimas se mostra, no fundo, sorridente
um soluço que vem rápido mas pausadamente
mostra que a vida tem cura, mas que, sinceramente,
não vai baixar a guarda  para este pedaço de gente.

dizem as bulas de remédio que a pobreza no vocabulário é um sintoma
e vocês tão ligados que disso ele tem de sobra
ele apenas tenta inventar frases desconexas pra rimarem
e, tirando tudo isso, o que ponho à prova?
um coração podre que não cansa de apanhar
uma mente errada que vive em guerra consigo mesma
uma casinha de madeira de frente para o mar
de incertezas e tristezas que nasceu na quaresma.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

quase coadjuvante

eu não li um livro novo. eu não assisti a um novo filme. eu não saí de casa pra passear. eu não fiz nada do que queria. oito e meia da manhã da quarta feira de cinzas. em curitiba, o carnaval todo foi cinza. dentro da minha cabeça tudo é cinza.
percebi que não sou uma pessoa interessante. vai ver eu tenha demorado pra cair na real quanto a isso. sou gordo, cabeludo, fumo e tenho um bigode. o mais perto de ser interessante que eu chego é do ridículo. talvez eu escape muito bem dos beijos de menina, mas não escapo dos dedos que apontam na minha direção que gritam meu nome me chamando de tosco.
não sei nem mais escrever. acho que foi a vida que me deixou assim. de vez em quando sinto um puta aperto no peito. não beijo ninguém há meses. e vocês sabem como eu gosto de trocar beijos. não conheço alguém novo há meses. vou sempre aos mesmos lugares com as mesmas pessoas (que incansavelmente tentam me aliviar desse fardo que tem sido viver - obrigado, pessoas. eu amo vocês!). 
às vezes sinto saudade de gente que não me olha mais no olho. mas logo passa porque eu aprendi a não me importar tanto com elas agora. tenho sentido apenas os anos indo embora e eu sentado num tronco de árvore no meio do nada esperando o que vem depois. sei lá. não sei dizer ao certo quando foi que a vida começou a perder a graça - que patético...
sempre levo as coisas para o lado sentimental. quieto no meu canto, apodrecendo com o passar do tempo, me sinto sozinho. como disse, há meses não beijo uma boca, e isso faz muita falta pra mim. por trás desses dentes tortos e amarelados há um coração quase petrificado bem danificado pela fumaça do cigarro que, acredito, não chega nem aos quarenta e sete anos. estou na rua todo fim de semana pra ver se esbarro com alguém sem querer e derrubo sua cerveja. "seu idiota! não olha por onde anda?", eu imagino que ela gritaria pra mim. sem saber onde enfiar a cara, então, eu lhe pago outra cerveja e começamos a conversar. uma noite, talvez uma manhã, o que vier está ótimo. mas eu preciso aprender que a vida real é brutal, nada parecida com o filme que escrevo no quarto todos os dias.
pensando nisso tudo, pego-me chorando mais uma vez. onde foi que eu errei? esmurro as paredes na tentativa incessante de acabar com essa angústia mas, por deus, que merda é essa que eu me tornei?

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

codeine

eu caí na real. eu nunca fui poeta. eu só tenho problemas imaginários que minha cabeça insiste em criar. eu nunca fui amor. eu sou só medo. medo de machucar o outro. medo de me relacionar. medo de fazer alguém chorar. medo de morrer. mentira. esse último medo não existe. aliás, para ser sincero, eu até ficaria grato se acontecesse. desligar do mundo? me desligar das pessoas más que existem? isso seria mais do que o que desejei. mas a partir disso vem o pior medo: e se do outro lado ainda existir gente? eu não sei mais lidar com as pessoas. não quero ter que lidar com mais pessoas mesmo depois de morto. eu não quero mais sair de casa. eu não quero ir ao bar e sorrir um monte de mentiras. eu não quero conhecer pessoas novas. eu não quero conhecer pessoalmente as pessoas que só conheço pela internet. eu não quero sair do meu quarto. eu não quero dar risada e voltar pra casa frustrado. eu cansei disso. eu não quero voltar pra faculdade e ser uma pessoa diferente desta que escrever estas linhas mal escritas. eu não quero sair pra comprar pão e receber o desprezo do padeiro. eu não quero comprar cigarro e receber como troco o desdém da moça do caixa. eu quero que todo mundo vá pro inferno. bando de pilantras.

relaxa, só tô escrevendo isso por estar magoado comigo mesmo. eu não odeio vocês de verdade.