quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Nunca foi tão fácil cuspir no prato em que comeu

o corte profundo foi feito na região onde o braço dobra.
sangrava por tudo e o chão ficou todo avermelhado.
raiva dentro do corpo dessa moça é algo que até sobra.
e esse grande corte foi feito pelo babaca do seu namorado.
em briga de faca você não pode ficar perto senão é cortado.
de ódio também era cheio o escultural corpo do rapaz.
jocasta sorrindo dizia “eu não quero mais ter namorado!”.
mas terminar com pedro é uma coisa que não se faz.
ela cansou das noitadas regadas a cocaína e bebidas importadas.
enquanto ele planejava o que fariam no próximo carnaval.
agora jocasta está com a barriga e pernas todas cortadas
pela briga de faca que fazia seriamente com seu rival.
já cansados no meio da cozinha do pai do garoto.
jocasta se aproveita da fraqueza dele e esfaqueia seu peito.
cuspindo na cara de pedro ela diz “morra, escroto!”.
e toda suja de sangue ela se orgulha do seu feito.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Preciso parar de imaginar o funeral das pessoas que amo

Tenho que parar de fantasiar a saudade que sentirei
as lágrimas que derramarei
e as confissões que farei. Nem tudo na vida são flores.
Nem todos terão flores.
Preciso parar com isso. É mórbido e triste.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

'Meu pai', assim como a canção

Eu sei que a gente nunca teve muita ligação.
Mesmo sempre morando dentro da mesma casa.
Quando eu voltava da escola sem animação.
Nunca corri pra debaixo de sua asa.

A gente nunca dividiu nenhum segredo.
E, na minha infância, nunca fomos muito amigos.
Eu até hoje não sei do que cê tem medo.
Mesmo tendo enfrentado vários perigos.

Quando eu tinha lá meus quinze anos de idade.
Eu chorava no quarto por não te conhecer direito.
Eu andava pelas ruas de Santa Felicidade.
Tentando consertar o meu pior defeito.

São incontáveis as vezes em que eu pensei em morrer.
Pela falta que sentia de um abraço do senhor.
Sinto que falta pouco pra sua vista escurecer.
E eu não quero provar deste amargo sabor.

Queria que cê tivesse uma vida longa e saudável.
Mas penso que sua partida está se antecipando.
Com o passar do tempo, tornei-me alguém mais amável.
E agradeço por, da minha mudança, você ter participado.

Hoje em dia a gente até que troca uma ideia.
Amo quando abre a porta do quarto pra me contar piada.
Sinto orgulho quando digo que cê era da boleia.
E que, desse Brasil, cê conhece cada estrada.

Hoje, ao colocar música para eu ouvir.
Ao ver seus olhos carregados não pude suportar.
Sem querer a gente ao mesmo tempo começou a rir.
E um abraço no meu velho eu tive que dar.

Fico pensando o que farei depois que você se for.
Apesar da sua ausência na infância, eu amo você.
Para te dizer essas coisas eu teria que ser ator.
Pois há vergonha dentro de mim, apesar de não parecer.

Queria que o senhor lesse essas linhas que te escrevo.
Mas sua visão já está falha e bem cansada.
Fico contente por ter te ensinado o que é relevo.
E por ter te apresentado uma namorada.

As palavras me faltam pra terminar seu poema.
E você só vai ler quando eu lançar meu livro.
Quando as coisas apertarem, peço-te, não tema!
Pois o senhor mesmo me ensinou que ninguém é de vidro.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Fumando com as unhas roídas

É foda quando você não consegue parar de roer as unhas. Não acham? Você fica de um a três dias sem roer nada, mas, depois desse tempo, elas parecem suculentas. Você se pega fissurado numa vontade imensurável de voltar a comer as unhas. Então você começa - um dedo, outro dedo, mais outro e mais outro. De repente elas acabam, mas, você não consegue esperar mais três dias para deixá-las crescer, então rói o que sobrou. Rói o canto dos dedos. Rói até sangrar. O sangue começa a escorrer de uma das unhas da mão direita e cai sobre a mão esquerda. Enquanto você come unhas, você bebe sangue. Começa, até, a sentir algo prazeroso em fazer isso. Tudo o que queria era dar uma pausa nessa vontade. Ter hábitos diferentes, mas você se sente amargurado e angustiado o tempo todo - e isso te convida a roer as unhas. Você aprendeu a fumar tentando parar com esse vício. Colocou outro vício à mostra pra tentar quebrar a hegemonia que era roer as unhas. Mas você é fraco. Você chora, rói unha e fuma.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Rua Augusta

O tic tac do relógio nunca me pareceu tão perigoso
o fim de uma longa espera nunca me botou tanto medo
noites em claro com a tv desligada nunca foram tão chatas
fumar um cigarro na frente de casa nunca foi tão glorioso.

A vida tem sido feito das três da tarde às seis da manhã
os horários invertidos têm acabado com minha disposição
se estivesse sozinho, com certeza estaria pior
e só tenho a agradecer às pessoas ao meu redor.

Uma espera por uma chamada me assusta
não sei como devo reagir se esquecerem do meu nome
acho que terei de voltar ao trabalho
porque senão, na casa de mãe, começarei a passar fome.

Voltar ao trabalho no mesmo lugar odioso de sempre
ou contar a verdade ao médico?
Dizer que perto daqueles trastes eu sou outro
eu sou louco
violento
odiável.

Contar a verdade costuma machucar fundo...
... Não quero mais me machucar
mas também não quero mais mentir.
Como eu me sinto realmente?
Acredito que vocês nunca saberão...

Sinto vontade de ser eliminado de vez em quando. Odeio o modo como minha cabeça pensa.
Deveria correr pra debaixo das saias do padre, mas a vida me ensinou a não ter crença.
O modo como as coisas andam cospem na minha cara as mais verdadeiras tristezas do mundo.
E mentindo para todas as pessoas queridas, foi como escolhi me machucar fundo.

Deixem-me morrer em paz.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Está morto o menino

Doente permaneço com as rimas me faltando
padeço em prantos na cama fria do hospital.
Enlouqueci as enfermeiras louras gritando
que dentro do meu peito se fez um forte temporal.

Cada tosse que sai pela minha boca ressecada
é a consumação do meu estado deplorável.
Enlouqueci a empregada que subia a escada
dizendo que a felicidade não era algo palpável.

A voz tímida que mora dentro da minha boca
agora clama por um único momento de paz.
De tanto enlouquecer as pessoas, tornou-se rouca
e nessa cama fria de hospital meu corpo jaz.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Um outro tom de cinza

Uma vontade enorme de baixar os discos do Nirvana e comprar uma camiseta do Mayhem e uma do Bathory. Fazer café e passar a madrugada acordado sem fazer nada. Às vezes folhar "A Metamorfose" que foi emprestado pela namorada. Ouvir Carissa's wierd e fumar alguns cigarros da carteira que o pai comprou à tarde.

Ir ao banco receber do inss. Andar de bicicleta. Esperar a próxima chamada da UFPR. Ficar angustiado com a espera pela próxima chamada da UFPR. Andar de bicicleta de novo. Suar. Amar. Pegar ônibus e amar mais. Visitar os amigos ou esperar para que eles me visitem. Fumar outro cigarro...

Esses dias estão estranhos. Fevereiro tá estranhamente cinza. Um cinza que é um início em cor.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

complicado

passei anos da minha vida tentando entender
o que acontecia com a juventude depois de velho
tentando saber o que rola por de trás dos panos
compreender como é que uma lágrima escorre sem querer.

complicado.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Alzheimer

setenta e dois anos nas costas
minha esposa está a preparar o café
na bagagem, perguntas sem respostas
usando chinelo com meia e chulé.

a velhinha tem se produzido muito
apesar do derrame tê-la deixada avoada
hoje ela mal se lembra do meu nome
ou que um dia foi minha namorada.

cuido dela porque nossos filhos não ligam
preferem ver seus velhos jogados no asilo.
é impressionante como essa história é real
e impressiona como há quem faça aquilo.

minha velhinha é tudo o que tenho
preparo seu banho e faço nossa janta
às oito da noite a gente deita no sofá
e fica coberto com a nossa manta.

setenta e sete anos nas costas
uma aposentadoria magra de dar dó
o laço do meu amor por essa velha
estará pra sempre marcado com esse nó.