quarta-feira, 30 de junho de 2010

Post #164 (#152 Pt. XI)

A gente já não tinha mais o que pensar de ruim. Éramos pessoas bem pessimistas, na realidade. Conseguimos imaginar escuridão em um campo de flores. Nos sentimos culpados, abraçados, pensando o pior que poderia vir com Clara. Ainda hoje, imagino que nosso pensamento negativo, foi quem levou Clara embora de nossas vidas. Clara morreu naquela noite mesmo, sem a família por perto, sem os outros amigos - tinha muitos, era bem sucedida socialmente - apenas nós lamentando sua triste perda. Bárbara perdia, naquele instante, uma parte dela mesma. Ela parecia não acreditar. Ela não queria acreditar, vendo que Clara não estaria mais junta, começou a pensar em coisas mais sérias. Com quem ela iria morar agora? Com quem iria dividir o aluguel do apartamento? Com quem iria dividir os segredos e contar as novidades? Sentiu falta da sua boneca.
Ao ver Bárbara sofrendo calada daquele jeito, confusa demais com tudo o que estava ao seu redor, resolvi tentar lhe ajudar. Não havia mais motivos para não tentar ficarmos mais próximos. Ofereci-lhe, assim, um cantinho de teto no meu apartamento. Disse que não precisava de aluguel e que o seu café eu mesmo passava. Ela pensou um pouco, mas no final acabou aceitando. Ela estava segura comigo e ela sabia disso.

- Mas, querido, será que o Doyle não vai estranhar a minha presença?
- Se ele não quiser você lá dentro, te boto para fora de casa! - em tom irônico
- Então ok...
- Não seja besta, é claro que estou brincando. Mas, se ele não gostar de ti, terão de aprender a viver sob o mesmo teto. E que sua raiva de gatos não se torne uma pedra nesse caminho, entendido?
- Entendido!

Naquela noite mesmo, fomos ao seu apartamento pegar umas roupas dela para que pudesse passar a noite comigo - dormindo separados. Ficamos combinados dela não ir ao trabalho, para tentar se recuperar dessa perda que sofreu. Ela ficava em casa enquanto eu, antes de ir ao meu trabalho, iria ao sebo conversar com seu superior. Acabou dando tudo certo. Fui ao sebo, fui ao trabalho normalmente. O melhor do meu dia foi chegar e ver um sorriso naquela boca. Eu estava cada dia me sentindo melhor e Bárbara sabia que era ela a culpada disso tudo. Na manhã seguinte, passou em seu trabalho pedir permissão ao chefe para resolver os problemas de sua antiga casa. Fiquei feliz demais ao saber que, estávamos, enfim, morando juntos.

- Agora você se fodeu!
- Por quê? Consegui tudo o que queria. Tenho meu gato e minha namorada junto de mim. Me sinto um adolescente descobrindo a vida. De vinte e oito anos, mas ainda assim adolescente.
- Não interessa. Você vai ser minha cobaia para tudo. Já que Clarinha agora é ausente, quem vai provar meus bolos e outras coisas que faço na cozinha será você!
- Tudo bem, até hoje eu só sei comer comida congelada. Ter uma chefe de cozinha particular vai ser ótimo!
- Vou ter que te fazer cócegas e te passar maquiagem também. Você vai ser minha melhor amiga, só que com barba...
- Eu posso ser sua melhor amiga, mas sem a maquiagem, né?
- Eu estava só brincando com você, bobo! - disse-me isso usando o mesmo sorriso que me conqusitou.
- Precisamos melhorar esses nossos pensamentos ruins. Ao seu lado, agora, quero descobrir como é pensar coisas legais. Parar de procurar maldade em todas as coisas que me cercam!
- Com o tempo a gente aprende. Você me ensina.

Dei um beijo em sua testa e fui ao sofá para dormir, enquanto ela foi para o banheiro tomar um banho. Eu deveria ter pensado melhor antes de me apaixonar por Bárbara, ela era uma péssima cantora.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Post #163 (#152 Pt. X)

Resolvemos esquecer todas as coisas tristes que vivemos até aquele momento em que nossas mãos estavam juntas. Esquecer de todas as coisas sombrias que teimavam em nos perturbar e começar uma nova vida, dividindo as coisas boas e coisas ruins um com o outro.
Eu não tinha um amigo próximo, como ela tinha a Clara, então toda minha atenção era voltada para ela e para Doyle. Eram as duas coisas mais importantes para mim naquele tempo. A Clara era uma pessoa complicada de lidar. Ela não se decidia com os rapazes, vivia intensamente e não se importava realmente com as coisas, com exceção do trabalho. Era alegre e vivia sempre sorrindo, talvez por nunca ter se apaixonado de verdade, ou não se importar com isso. Diferente de mim que era dramático para essas coisas.
Em uma noite de quinta feira, estava eu solitário em minha sala ouvindo Silvio Caldas, até que Bárbara me ligou desesperada implorando para que eu fosse até sua casa. Chegando lá, vi que Clara havia piorado e estava estirada ao chão. Soube-se ali que sua doença não era uma gripezinha qualquer:

- Glenn! Cheguei em casa hoje e Clara estava assim!
- Mas por que vocês não resolveram ver isso com um médico?
- Ela é teimosa! Ela acha que remédios e cama curam qualquer coisa!
- Gente, vocês não precisam se preocupar tanto. Eu vivi rápido demais, só estou colhendo o que plantei. - disse em tom tranquilo, como se estivesse drogada.

Ligamos para a emergência e chamamos uma ambulância. Bárbara chorava e isso me machucava demais. A sensação dela perder a Clara, seria a mesma de eu perder o Doyle. Me coloquei em seu lugar e imaginei... Acho que morreria junto.

- Promete que vai ficar comigo! Promete, promete! - pedia chorando incontrolada.
- Eu prometo. Independente do que aconteça com Clara, eu prometo sempre ficar junto de ti, Bárbara! - nesse ponto já tinha me entregado às lágrimas que arrombaram as portas dos meus olhos.

Dormimos aquela noite no hospital esperando por Clara.

Post #162

Eu vou continuar o #152, tá?

Post #161

Orlando Silva - Tristeza

A tristeza é a minha unica companheira
É a unica mulher que me quer bem
Pobre de quem passa a vida inteira
sem ter a amizade de alguém

Eu sou qual caboréque vive só na solidão
com seu cantar tão triste que se perde
na amplidão
Chora violão comigo, por favor
e diz a todo mundo a minha dor

Eu nunca tive um só momento de felicidade
Não tenho um peito amigo, um afeto,
uma amizade

A minha mocidade teve a vida de uma flor
E é triste uma existência sem amor

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Post #160 (#152 Pt. IX)

Bárbara insistia em querer saber do meu passado. Mesmo sabendo que eu não gostava de tocar nesse assunto, ela fazia manha e me falava com uma voz tão doce que uma hora eu tive de ceder. Ela me perguntou sobre meus pais, disse-a que morreram quando eu tinha vinte e cinco e que antes disso minha vida era mais legal. Contei que antes deles partirem, eu me apoiava neles como base para tentar ascender nessa minha vida. Depois, pensei em morrer. Minha autoestima nunca foi minha virtude. Eu sempre fui pessimista e fazia drama para tudo. Me perguntava como eu era com as "menininhas" e ela não acreditava no que eu dizia. Contei que até os dezessete anos, havia beijado duas garotas. Contei que eu morria de amores em segredo, coisa que fiz até dizer-lhe o que sentia. Ela me disse que eu deveria ter parado de ser assim já na adolescência. Disse-me isso como se me observasse desde então. Ela me entendia tão bem, que às vezes achava que ela era eu. Em pouquíssimo tempo, ela conseguiu bagunçar todo esse meu coração cansado de mágoas na adolescência. Eu de fato odiava falar na minha juventude.
Eu perguntava como ela era quando mais jovem. Me falou que sempre foi a menina mais esperta da classe, que sempre tinha as melhores notas e sempre servia de exemplo para todas as coisas boas. Ela ria quando eu dizia que duvidava disso tudo. A parte amorosa de sua vida jovem, ela não quis me dizer, mesmo eu dizendo todo o fracasso que eu era. Ela dizia que não queria me deixar triste contando coisas que não iriam me fazer sentir bem, pois, disse que não era tão diferente do que eu era. Se eu era essa coisa patética e já ficava triste por mim, nem quis saber, que era para não ficar triste por quem eu zelava. Me contou que teve um gato (!) e que passou a odiá-los após esse gato rasgar uma de suas bonecas. A favorita. Sua mãe tentava explicar que ele não sabia o que fazia, que era muito filhote, mas Bárbara não entendia. Ela amava aquela boneca mais do que a si mesma. Dizia ser sua melhor amiga. Convenhamos que um gato é bem melhor que uma boneca...
Ao perguntar do seu pai, ela falava com orgulho. Não perguntei muito, pois não quis me intrometer demais. Mas o que deu a entender, é que ela gostava mais do pai do que da mãe. Seu irmão era chato, enchia seu saco toda momento, ouvia músicas ruins e gostava de carros. Típico. Hoje ganha a vida na Austrália e vive muito feliz esposa e filhas, como já havia me dito.
Enquanto a gente conversava sobre sua vida, seus pais, hábitos, eu insistia em saber sobre a vida amorosa, até que ela resolveu abrir o jogo. Quando tinha dezesseis anos, ela começou a gostar de uma menino que conhecera uns anos antes. Resolveu contar ao menino e começaram a trocar uns beijos às escuras. Eram bem reservados e não queriam que virasse algo muito público, o que acabou não acontecendo. O que Bárbara não sabia, é que um amigo seu adorava ela, ela era extremamente fofa com ele - mesmo? - e ele era apaixonado por ela sem dizer nada. Pelo o que me disse, coitado, não era bem sucedido de coração. Quando contou à ela sobre tais sentimentos, Bárbara não soube o que fazer. Gostando de um menino que se mostrava indiferente e tendo um amigo tão carinhoso ao lado implorando por um abraço apertado. Essa era a tão temida coisa que tinha para me falar. Ela se odiava por conta disso, ainda hoje. Tentei confortar-lhe dizendo: "Querida, tenho certeza que coisas assim acontecem ainda hoje."...

Post #159 (#152 Pt. VIII)

Vocês, caros leitores fieis, já se sentiram bem? Não bem de estar bem, mas um bem supremo que é capaz de pôr você em outro nivel de vida. Já sabem com é estar sendo amado verdadeiramente? Já sabem o que é poder abraçar a pessoa por quem você guarda um amor maior que a simples amizade? Em vinte e oito anos eu não sabia o que era viver essas coisas. Até que eu encontrei ela. Daquele dia em diante, eu comecei a me sentir a pessoa mais feliz do mundo - se já era quando era só amigo, imaginem agora. Finalmente tenho uma motivação para continuar respirando e vivendo no meio dessa cidade cheia de jornais pelas ruas e carros e vão à toda velocidade para lugar nenhum. Eu e Bárbara acabamos ficando mais amigos ainda, só que agora trocávamos beijos, coisa que eu mais queria fazer com alguém quando tinha meus dezessete.
Em uma noite de quarta feira, liguei para ela como de costume para ver como estavam as coisas, como tinha sido o seu dia e tudo aquilo que eu insistia em saber. Deixava escapar uma pontinha de ciume perguntando se existia uma outra pessoa morando em seu pensamento. Isso era a única coisa que Bárbara odiava em mim. Eu perguntava isso só para encher o saco, eu confiava demais nela e não iria botar tudo à perder por um ciume bobo. Sei que ela pensava igual sabendo como eu sou e sempre fui. Convidei-a para sair aquela noite. Tomar um café em alguma lugar, mas recusou. Disse que precisava ajudar Clara que estava doente. Eu fiquei chateado e perguntei porque Michael não poderia fazê-lo, até que eu soube que Clara havia terminado tudo na noite em seguida em que dormiu na casa dele. O motivo eu juro que não quis saber...
Bárbara odiava gatos. Quando disse que meu amigo mais fiel era Doyle, ela me chamou de idiota. Perguntou o por que de eu não tinha pego um cachorro. Dizia que eram bem melhores que gatos, que gatos eram interesseiros e aquela coisa que todas as pessoas do mundo falam sobre os gatos. Ela odiava o fato de eu não saber conversar com pessoas desconhecidas, não sei o motivo também, já que ela nunca soube fazer isso. O trabalho dela exigia saber dessas coisas, exigia sorrir para os clientes... Esse deve ter sido o melhor trabalho que ela conseguiu na vida. O fato de um gato dividir o mesmo teto que eu, fez Bárbara recusar meu convite para vir aos meus aposentos uma vez. Mas depois que nos declaramos, até o ódio por gatos ela resolveu esquecer. Ela era a coisa mais incrível que aconteceu na minha vida.

sábado, 26 de junho de 2010

Post #158 (#152 Pt. VII)

Acabamos nós quatro - eu, Bárbara, Clara e seu novo namorado - indo ao cinema. Fizemos que nem adolescentes, em casais assim, coisa que até então eu nunca tinha feito na vida. Resolvi fazer tudo o que minha adolescência não permitiu; abracei ela fingindo me espreguiçar, coloquei minha mão sobre a dela "sem perceber" no apoio de braço, isso fez ela soltar uma gargalhada no meio do filme enquanto me chamava de "o idiota mais fofo" que ela já tinha conhecido. Não sei, mas eu adorava ser chamado de idiota por ela. Eu imaginava que, o que entregava o sentimento dela, era o modo que se referia a mim. Me xingando de um jeito diferente, ou chamando meu nome de um jeito mais legal. Isso fazia crescer a vontade de ouvir um "te amo" sair daquela boca.
Quando o filme terminou - filme péssimo, diga-se de passagem - levei Bárbara para casa enquanto Clara foi para casa de Michael. Como morávamos no centro, morávamos também perto de tudo, inclusive do cinema. Era uma distância considerável, sete longas quadras que andamos devagar. Aquilo estava perfeito. Só nós dois pelo meio da rua, enquanto a única coisa que se ouvia era as nossas vozes conversando como se a gente fosse amigos desde os dez anos de idade. Eis que no meio desse caminho, a chuva começa a cair sobre nossas cabeças. Eu teria odiado isso, mas nesse momento, descobri que Bárbara adorava banhos de chuva inesperado. Não nos deixamos abater pela água que nos molhava, ficamos feito crianças andando e jogando água das poças um no outro. Cantávamos mais alto que o barulho da tempestade, estávamos de fato muito felizes.
Ao chegar em sua casa, deixe-a novamente na porta e a abracei. E ao pé de seu ouvido, soltei o que estava entalado na garganta:

- Eu te amo.
- O quê? - espanto.
- Eu disse que te amo. Você ainda não percebeu? Todas essas nossas conversas, você me perguntando se eu tinha alguém, se eu gostava de alguém, eu sempre respondia não, justamente porque eu quero você. Não que houvesse alguém, é claro, mas, o que me interessa agora é você... Não acho exagero nenhum eu disser que gostaria de passar o resto da vida ao seu lado, Bárbara. Se você tiver algum outro cara em vista, não hesite em me dizer agora. Pelo menos eu já consegui te dizer tudo o que queria. Acho que até a Clara já se tocou que eu amo você.
- Oh, Glenn... Eu estou sem palavras. - confusa
- Tu..Tudo bem, eu vou entender se você não quiser mais...
Antes que pudesse terminar de falar, Bárbara desceu um degrau e me deu um beijo. O beijo mais longo que já recebi na vida, o tão esperado beijo. O encontro de línguas que marcou nossos corações para sempre, misturado com água que vinha dos nossos olhos e com a água que caía do céu. Me descobri ali, naquela noite de sexta feira, a pessoa mais feliz do mundo todo.

- Glenn! Glenn! Glenn! - eufórica - Eu tinha medo de te dizer isso e você não querer nada comigo. Você me dizia que nunca havia tido coragem de contar para uma menina o que sentia, achei que fosse acontecer o mesmo agora. Imaginei te dizendo todas essas coisas e você me deixando arrasada. Clara me dizia coisas do tipo "Bárbara, até eu sei que ele gosta de você!", e isso me encorajava demais, mas ainda sentia medo de que fosse imaginação... Glenn, você me fez a mulher mais feliz do mundo agora.
- Eu te amo, Bárbara.
- Je t'aime, Glenn!

É isso aí... Para completar sua perfeição, Bárbara sabia falar francês.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Post #157 (#152 Pt. VI)

Acabamos passando horas no telefone naquela semana. Fiquei sabendo coisas interessantes a seu respeito e eu, com muito esforço e coragem, acabei falando um pouco de minha vida. Ela não era muito parecida comigo. Gosto musical, literário, comidas... Eram tão diferentes. Isso não era ruim, já que eu estava tão envolvido com ela. Ela me adorava, mas não dizia que gostava de mim, ela era do tipo da garota que gosta de ter certeza do que está sentindo antes de sair falando "qualquer coisa"... ou só era tímida mesmo para dizer que morria de amores por mim - era isso que eu imaginava.
Ela era três anos mais jovem que eu. Fez faculdade de Direito mas não seguiu carreira. Dividia apartamento com uma amiga que conhecera antes da faculdade, só que, diferente de Bárbara, fez o que a vida lhe ordenou. Elas eram diferentes, pelo que me falava. Clara era mais festeira e vivia com um cara por vez. Não se apegava fácil e dificilmente sofria por algum deles. Depois de sua primeira desilusão, em que o menino que gostava na adolescência beijava sua irmã em sua frente, ela não se abateu e resolveu não se importar com isso. Não entendi como ela conseguiu fazer isso com facilidade, achei ela muito estranha por causa disso. Elas já eram amigas de tempo mas Bárbara ainda não havia falado de mim, apesar de Clara ter-lhe perguntado milhares de vezes com quem ela conversava tanto no telefone.
Bárbara me apaixonava com as coisas que me dizia. Ela me fazia rir demais, feito uma criança mesmo. Ela era divertida e bonita. Ela não precisava usar maquiagem para se tornar a mulher mais linda que poderia existir, mas insistia em passar lápis nos olhos e um brilho caía aos lábios. Ela era realmente incrível. Seus cabelos que dançavam aos ombros eram perfeitos. Era atraente e não fazia cerimônia para escolher roupa - amém! Havia perdido o pai quando criança e mãe morava em um bairro próximo ao centro. Tinha um irmão que morava na Austrália, casado e com duas filhas. Era tia, e eu, implorava em silêncio para que pudesse me tornar tio das crianças.
Pensei em convidá-la para vir à minha casa beber um chá, ouvir uma música, dançar sem medo que outras pessoas assistissem, conhecer o Doyle. Mas não o fiz. Não era hora para isso, mas de certa forma, acho que ela sabia que eu queria passar um dia abraçado com ela. De certa forma, ela sabia que eu estava apaixonado.

...continua

Post #156 (#152 Pt. V)

A semana começava mais uma vez, tão normal e pacata quanto as outras se não fosse por uma coisa: eu estava feliz. Não sabia que gostar de alguém - sim, eu gostava de Bárbara - causava tanto impacto assim em alguém. Claro, o "gostar" que eu digo não era aquele da minha adolescência, que eu escondia de todo mundo e ficava triste por qualquer coisa, esse gostar era como um triunfo, uma vitória. Acho que era por achar que ela também gostava de mim. Eu saí de casa tão alegre, cumprimentava todas as pessoas que via na rua, me senti a pessoa mais simpática do mundo... E tudo isso por causa de uma pessoa.
Eu desenhava para um jornal da cidade, coisa que Bárbara até então não sabia, mas os Glenn que vinha assinado nos quadrinhos era eu. Quadrinhos que, ela adorava e sempre gostava dos desenhos "bem feitinhos". Eu saía cedo do meu trabalho, por volta das 15:00h todos os dias, dava tempo de sair, ir para casa e depois ir ao sebo em que Bárbara trabalhava. Resolvi começar a fazer isso. No caminho, comprei-lhe um chocolate por agrado. Não queria mudar com ela ou acabar fazendo alguma coisa que lhe causasse, não que palavra usar, mas que não fizesse ela desgostar de mim, entendem? Eu pensava em fazer todas as suas vontades.
Cheguei ao sebo e logo a vi. Meus olhos cresceram rapidamente e meu coração - novamente - ascendeu à boca. Fui até ela, agora, já com menos vergonha do que na primeira vez:

- Olá. Lembra de mim?
- Glenn! Que ótimo te ver por aqui.
- Saí do trabalho agora e resolvi dar uma passada para ver como você estava. Acabei ficando sem seu telefone para falar com você e ver como tem passado desde sábado.
- Ficamos combinados assim: eu te ligo logo quando chegar em casa e te passo meu número para me ligar quando quiser. Aquele sábado foi a melhor noite de minha vida, nunca havia estado com um cara tão legal quanto você e eu só tenho a te agradecer. Agora... Finja que está procurando algum livro ou disco que eu estou no meio do trabalho, seu bobo!
- É sério? - comovido - você realmente gostou da minha companhia? Bárbara, eu queria te dizer que você é a coisa mais extraordinária que já me aconteceu. Eu sei, é meio meloso e besta, mas é verdade.
- Óun, Glenn - brilhavam os olhos - você é um amor de pessoa, mas eu preciso voltar ao meu trabalho.

Parei de encher-lhe logo depois disso. Perguntei aonde estavam as HQ's e saí como quem não conhecia ela. Ao chegar à porta, piscou-me um de seus olhos castanhos e me acenou a mão. Aquilo foi lindo.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Post #155 (#152 Pt. IV)

Enquanto eu voltava para minha casa, esperando um novo domingo tediante chegar, eu parecia que estava nas nuvens. Estava me sentindo a pessoa mais feliz do universo, não havia motivos para eu pôr novamente uma máscara triste nesse meu rosto barbado. Cheguei em casa e dormi feito uma criança.
Mais um domingo bateu à minha porta e novamente eu fiquei fazendo o que eu faço todos os domingos - nada. Isso não me preocupa mais. Quando eu tinha dezessete anos, era o fim do mundo para mim. Passava o dia todo na internet, mas sempre tinha alguma coisa para fazer. Eu era desanimado com a vida e ficar em casa no domingo era a única opção que me sobrava. Eu rezava para que o domingo demorasse para chegar, mas o tempo corria contra mim. Parece que tudo o que interessava-lhe era o domingo. A única pessoa que odiava domingo tanto quanto eu, era um amigo que eu tive, mas que por ventura nunca mais falou comigo. Foi-se para São Paulo e hoje não faço ideia de como esteja. Espero que esteja bem, eu o adorava.
Enquanto eu tocava minha viola nesse domingo de pijamas, não consegui tirar Bárbara da cabeça por um só segundo. Acabei fazendo umas melodias e uma canção com o nome dela. Foi coisa de momento e eu não faço ideia de como era a letra. Eu pensava em como ela estava, o que estava fazendo, como acordou, como foi dormir e principalmente se estava com um outro alguém - ciúme? Eu me via cada vez mais envolvido com ela e juro que isso estava me fazendo bem. Pensar nela só me fazia lembrar que passou da hora de comprar aquele disco do Cartola.
Pensei em passar na casa dela só para dar um oi e, se quisesse, sair comigo para fazer alguma coisa que as pessoas normais fazem domingo - shopping não. Mas enquanto eu colocava meus "red shoes" - and dance the blues - a chuva, ironicamente, começou a molhar a minha janela. Isso foi mais desanimador que ver uma menina que eu gostava de mãos dadas com outro guri. Coisa de adolescente besta. Hoje minha vida é diferente. No mais, fui obrigado a morar sozinho por mais um domingo. Junto de minha vitrola, minha caneca, livros e de meu fiel companheiro - Doyle, meu gato que já me acompanha há dois anos. Quando me mudei para esse apartamento, eu notei que precisava de uma companhia, e nada melhor que um gato para ouvir minhas mágoas.

...continua.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Post #154 (#152 Pt. III)

Eu dei o meu telefone para ela na esperança de que ela me ligasse. Não pedi o dela porque eu sabia que não iria ter coragem para discar os números. Eu sempre odiei telefone, nunca me dei bem com essas coisas, achava minha voz horrível e tudo mais - aliás, eu achava tudo em mim horrível. Fui até a cozinha, preparei mais um chá e sentei-me novamente em minha poltrona esperando pela ligação de Bárbara. Esperei por longos dez minutos, até que o telefone tocou. Eu conversei com tanta facilidade que fiquei até impressionado comigo mesmo. Juro que não pensava que me sairia tão bem falando ao telefone com alguém... Alguém como ela, é claro. Marcamos de nos encontrar sábado à tarde para comermos juntos e nos conhecermos melhor. Eu ficava cada minuto mais ansioso.
Chegando àquele sábado, eu levantei como se eu fosse o cara mais sortudo do mundo. Se nada que eu havia planejado ou pensado chegasse a se concretizar, eu já estaria satisfeito com a atitude que tomei de ir falar com Bárbara pela primeira vez - tudo bem, foi no trabalho dela, se fosse na rua provavelmente iria passar batido. Resolvi mudar. Ao invés de chá, preparei um café fortíssimo e ouvi Orlando Silva a manhã toda. Tanta inspiração servia como um combustível a mais e o mais legal disso é que eu estava super confiante. Tomei o banho mais longo da minha vida e coloquei a minha melhor roupa - coisa brega e nada na moda. Saí de casa ao som de pássaros cantando, desci as escadas dançando, o meu coração estourando, e as flores à mim sussurando coisas legais que traziam harmonia à alma.
Cheguei lá e ela estava virada de costas para a porta. Roubei uma singela margaridazinha e cheguei todo tímido - eu realmente não sabia o que fazer - ela levantou e cumprimentou-me:

– Oi, Glenn. - disse-me com aquele mesmo sorriso encantador.
– Olá. - em tom meio baixo.
– Então... Você vem muito nesse lugar?
– Negativo. Gosto de vir aqui em ocasiões, digamos, especiais.
– Tipo quais?
– Não sei. Essa é a primeira vez.

Depois dessa cantada inventada na hora, Bárbara olhou para o fundo dos meus olhos, como se quisesse me esmagar, ou me abraçar até morrer. Pelo menos era o que eu gostava de acreditar. Conversamos até mais ou menos onze horas da noite, que foi quando o restaurante fechou. Cometi uma gafe tremenda que não quero pôr em linhas. O importante disso é que Bárbara riu como nunca havia feito na vida - segundo ela mesma.
Quando saímos de lá, resolvi dar uma de cavalheiro de levar ela até sua porta. Enquanto caminhávamos, fomos conversando mais e nos conhecendo cada vez mais. A gente até arriscou alguns passos de dança sob aquela neblina densa, onde ninguém nos via - só fizemos isso justamente porque ninguém nos via - rimos feito dois idiotas e demoramos muito tempo para chegar. Quando lhe deixei, ela sorriu - ai meu Deus, como eu adorava esses sorrisos - e disse:

– Obrigada pela noite. Você é mais interessante do que eu pensava!
– Como assim "do que eu pensava"?
– Desculpa, mas meu gênero instrospectivo não vai me deixar falar mais que isso. Já estou espantanda de ter aceitado seu convite.
– Tudo bem. Acho que te entendo, também tenho esse lance todo quieto e tal... Espero te ver novamente.
– Bem, eu tenho seu telefone e você sabe aonde eu trabalho e fico o dia todo. Então... Oportunidades não faltarão!
– Ficamos combinados então. Qualquer coisa me ligue.
– Ligo!

Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ela deixou cair sua boina - propositalmente? - ao meus pés. Fui obrigado a devolver-lhe. No ato, ela desceu as escadas e me abraçou com força, me deu um beijo na testa e depois ficou envergonhada. Foi a coisa mais bonita que fizeram para mim em vinte e oito verões...

...continua

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Post #153 (#152 Pt. II)

– Moço...? - disse rindo meia boca.
– Desculpe. Não prestei atenção em nada do que disse. Mas já achei o que queria. Até outro dia.
– Tudo bem - e sorriu-me de uma forma tão doce que quase morri de amores ali mesmo.

Claro que aquilo que eu acabara de falar não era a coisa mais inteligente do mundo. Mas na hora, sei lá... Eu travei tudo, fiquei sem reação, não soube o que falar... Não é de hoje que eu não sei me portar perante uma mulher bonita. Eu sei lá, mas eu senti tanto amor naqueles sorrisos que eu até esqueci que disco queria comprar. Acabei saindo do sebo de mãos abanando, em compensação, meu coração transbordava coisas legais, lindas, recheadas de carinho e outras mil peças pregadas por essa minha imaginação tão fertil.
No outro dia, pensei em voltar até lá só para tentar conversar com ela uma vez mais. Dessa vez, eu queria mesmo conversar e não só perguntar aonde ficavam os discos. Acabei não fazendo por razões das quais eu mesmo desconheço. Talvez tenha me faltado coragem. Quando resolvi voltar lá, fui destemido a realmente conseguir alguma coisa além do "Oi, aonde fica a sessão de filosofia?":

– Oi.
– Olá. Em que posso ajudar?
– Eu venho observando esse sebo há um tempo. Notei que você é quase a coisa mais incrível que meus olhos já tiveram o prazer de encarar. Vim aqui atrás de um disco há uns dias, mas saí sem nada, esquecendo até o que estava procurando. Acho que eu só queria te dizer que você é linda. Era isso. Estou pronto para ouvir qualquer tipo de xingamento. Depois disso vou embora e prometo não mais encher-lhe a paciência.
– Oh... Obrigada! - riu envergonhada - Eu ouvi isso muitas vezes na minha vida, mas nunca de maneira tão transparente quanto essa que me transmitiu. Você parece ser uma rapaz legal, como se chama?
– Glenn. E você?
– Bárbara.
– Parece mentira ou meio piegas, mas eu sempre adorei esse nome...

E assim conversamos durante um bom tempo. Para mim era um avanço gigante, conseguir conversar com uma moça tão bonita quanto Bárbara. Resolvemos nos encontrar fora do Sebo para ver aonde nossas conversas nos levariam. Eu estava mais nervoso que um certo menino em sua primeira apresentação escolar.

...espero que haja continuação

domingo, 20 de junho de 2010

Post #152

(...) Eu já não sabia o que eu estava fazendo vivo. Pensando desse jeito, eu ficava fazendo planos para driblar todas as coisas ruins que me cercavam. Sempre falhava. As coisas que me machucavam continuavam a fazê-lo. Eu era tão patético. Saía de casa nesses tempos frios, chegava e não via sentido no que acabara de fazer. Fazia sempre a mesma coisa à tarde. Chegava em casa, fazia o chá, sentava na poltrona e conversava sozinho. A coisa que eu mais sabia fazer era conversar... Pena que só eu mesmo sabia disso.
Os tempos foram passando e eu fui ficando velho. Já tinha vinte e oito e ainda não tinha encontrado um amor... assim... para sempre. Sabem, né? Com vinte e oito anos e sem uma moça, as más línguas já sabem o que falar. Eu nunca tinha dado muita sorte com essas coisas. Passei a vida toda coberto de desilusões e planos que nunca se concretizaram por minha causa. Sempre dava errado por culpa minha. Quando andava de ônibus, toda moça bonita que meus olhos insistiam eu ficar assistindo, acabava desenhada em papéis da minha memória. Me apegava tão fácil que nem precisava se quer conversar. Essa era minha maior futilidade.
Meus amigos que hoje só estão na memória, sempre tiveram o gingado necessário para abraçar outra pessoa. Sempre tiveram sua mocinha aqui e ali... E eu, com minha timidez toda, ficava sempre assim, sem ninguém... História que se repete até hoje, morando sozinho no centro da cidade. Meus amigos eram os melhores que eu pude ter na vida. Eram sempre tão presentes, mas por necessidade, acabaram se afastando. Talvez não por não gostarem de mim, mas sim, porque precisaram de fazer isso. Me dói tão profundamente lembrar de cada momento assim. A nostalgia me golpeia tão forte e eu me rendo tão fácil... Tão fácil. Inevitavelmente, meus olhos ficam rasos d'água, mais uma vez.
Meus pais já não eram presentes à vida. Quando tinha vinte e cinco, foram-se já bem velhos. Chorei tanto de saudade de quem eu mais amei. Hoje, em momentos isolados, ainda o faço. Depois de três anos não havia esquecido completamente a dor de perdê-los. Eu precisava de remédios para escapar da minha depressão. Remédios quase sempre sem efeito algum.
Eis que um dia, resolvi alimentar minha coleção de discos. Já beirava os mil e quinhentos discos de vinil, entre clássicos brasileiros e internacionais. Estava à procura do único disco do Cartola que ainda não habitava minha prateleira. Encontrei-o em um sebo que acabara de abrir no centro. Era um domingo, fazia muito frio em uma bela manhã de outono. Ao entrar no sebo, vi que a menina que tirava o pó dos livros, era a dona dos olhos mais belos que eu pude ter o prazer de ver antes de morrer. Mesmo sabendo onde ficavam os discos, não hesitei em ir perguntar-lhe. Enquanto ela me falava, eu acabei não prestando atenção em uma palavra se quer. Quando falava, seus cabelos pretos aos ombros dançavam, eu entrava naquela dança e me distraía do mundo.

...continua

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Post #151

Eu prometo ser alguém sem preocupações
Hoje eu quero dormir ao som desse ventinho
Prometo também não morrer quando ver
Esse seu lindo rostinho

Resolvi abrir os meus olhos, gente!
Agora eu vi que já cansei de chorar.
Vou tentar sair desse mundo ardente
Onde tudo que faço é amar.

Chega de palavras tristes nos poemas,
Tais como tristeza ou morrer.
Mas o que será de mim com outros temas
Se o poeta só é grande se sofrer? intertextualidade mode on

Post #150

Em meu viver não há felicidade
Em minha casa o leite está estragado
Aprendi a conviver com a realidade
De que para mim tudo dará errado

Em meu viver não há alegria
Em minha casa também não há pratos
Misturo a minha cruel nostalgia
À minha dependência dos gatos

Em meu viver me falta motivação
E minha casa está escura
Procuro abrigo em outro coração
Mas só acho maldade pura.

Em meu viver não há vontade
E minha casa é cheia de solidão
Talvez por um desleixo ou vaidade
Fiquei sozinho no verão

Coragem falta ao meu viver
E à minha casa a voz lhe falta
Vontade sinto agora de morrer
Com essa minha tristeza em alta

Post #149

Oi. Hoje é sexta feira (18/06) e eu não estou me sentindo nada bem.
Talvez eu escrevesse mais abertamente sobre o meu estado de espírito e psicológico se esse blog ainda fosse "secreto". Ele se tornou tão público que aquele meu medo de falar alguma coisa para as outras pessoas ainda existe. É como se eu não tivesse o prazer necessário para dizer-lhes tudo o que eu queria, coisa que pode até ser confundida com a minha falta de coragem para contar o que eu sinto aos outros, hehe.

Pois bem, eu não estou me sentindo bem fisicamente. Eu estou doente, com dor de garganta, cabeça, costas e isso não vai melhorar tão cedo, porque eu insisto em ficar à base de tratamento caseiro. Eu não estou me sentindo bem psicologicamente. Eu estou sob uma pressão gigantesca quanto à trabalhos de escola, isso, na verdade, é o de menos que me aflige. Está acontecendo tanta coisa ruim - para mim - e eu não tenho o controle de tudo isso. Eu não consigo não me entregar tão facilmente às coisas que futuramente me deixarão triste. O futuro já chegou e as coisas já me deixaram triste. Eu tentei evitar, tentei deixar de lado, mas eu não consegui. Me rendi mais uma vez, com facilidade àquilo que eu mais temo que possa acontecer comigo. Isso vai passar. Vai demorar, como das outras vezes, mas vai passar. Pode levar bastante tempo, ou não, mas um dia vai passar e isso só vai ser mais um pedaço da lembrança, como se fosse ficar guardada numa caixinha escrita "bobagens da minha vida" que só existem na minha cabeça e só eu saiba quais são.

Eu me detesto por não conseguir contar aos outros como eu estou. Eu já cansei de ouvir dos outros que não me gostam de me ver triste, que eu não tenho motivo para isso, que eu não posso ficar assim, que eu devo melhor... Desculpem-me! Eu falhei! O que me deixa triste, vai continuar me deixando triste. Se eu deixar escapar da minha boca, vai continuar me deixando triste, não vai me beneficiar em nada. Então, de que adianta dividir essa tristeza com os outros? Enfim... Nem liguem. Como eu já falei: uma hora isso passa. :)

Post #148

Minha vida vazia brota aonde nada mais cresce.
Grande força estranha que me carrega nos braços.
Minha nuca enche de beijos e me cobre com abraços.
Meu coração - em segundos - vinte anos envelhece.

Tento reviver achando motivo para andar.
Olho para frente com vontade de partir.
Não consigo achar motivo para minha boca sorrir.
Olhando tudo desse lado não me vem vontade de acordar.

Os olhos da amada que não mais me apetecem.
Gosto de pensar que não quero mais a boca dela.
As coisas boas em mim, pensando assim, não crescem.

De amargura com gosto de lágrimas os meus olhos se vestem.
Vou queimar o que me deu. A rosa e a camisa de flanela.
Da cidade sair. Esquecer de você. Viajar. Pegar um trem.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Post #147

Eu tento não me importar.
Faço de tudo para não me importar.
Eu juro que quero não me importar.
Eu tento não me importar.

Não consigo não me importar.
Tal ato idiota rouba meu ar.
Eu não deveria me importar.
Eu não posso me importar.

Nossa, por que eu tô realmente escrevendo isso aqui? Todo mundo já está cansando de saber como eu sou idiota, como eu sou besta assim e como esse meu lado emocional é um saco! Eu deveria ser menos eu de vez em quando, talvez isso fizesse um grande bem pra mim. Queria viver sabendo como é não sentir esse vazio interior todos os dias... E o pior, é viver com a idéia de que eu sou um completo babaca. Tsc, tsc... Eu sou muito patético.

Post #146

Fraco sei que sempre fui.
Hoje sinto todo esse peso.
Junto com a tristeza que flui.
Sinto o fogo da dor aceso.

Ando tranquilo por aí.
E finjo sempre estar bem.
Não mostro que aqui.
Ardo sempre por alguém.

Imaginação tão minha inimiga.
Pega minha face para bater.
Minha importância causa fadiga.
E de amar tento me abster.

Faço de garoa temporal.
Tento e não consigo esquecer.
Vivo entre o bem e o mal.
E parece que eu gosto de sofrer.

Gostaria de continuar a escrever,
Mas já estou muito triste para isso fazer.
O motivo é sempre eu não te ter.
Misturado com o fato de não esquecer.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Post #145

Fiquei à beira do abismo.
Porque minha vida é falha.
Culpa desse meu otimismo.
Que não ganhou uma batalha.

Acostumado a perder.
O que vai além do futebol.
Sabendo que não posso ter.
Perco até o brilho do sol.

Tanto faz - e assim vou fingindo.
As coisas legais eu vou deletar.
Com indiferença eu vou sorrindo.
E a tristeza vou mascarar.

O que sucede realmente.
Esconder de todos quero.
Ficará só em minha mente.
Pois com o tempo eu supero. (leva tempo, mas eu supero)

E por azar, novamente.
Eu caminharei solitário.
Me recompondo lentamente.
E me achando um otário.

De tristeza enchi a cesta.
E me cubro de incertezas.
Ai, como sou besta.

Eu só penso no pior.
Não consigo ver-me assim,
Sendo alguém melhor.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Post #144

O cabelo é com a barba.
O dedo é com o anel.
A boca com o pastel.
O corpo com a farda.

O tênis com o pé.
As pernas com as calças.
As malas e as alças.
Minha caneca e meu café.

O mato com o frio.
A angústia com o medo.
O silêncio com segredo.
E as águas com o rio.

As ruas e o carro.
O sangue e coração.
O pássaro João,
e sua mulher de barro.

E assim meu coração esfria.
Ao saber que outro prefere.
Sem saber, é o que me fere.
E era você quem eu queria.

A flor com espinho.
O mundo amando.
Se abrançando.
E eu sozinho.

Post #143

É só o eu lírico que mudou... De qualquer forma, minha vida tá toda igual. Aquela mesma chatice de sempre e eu não sei o que eu faço. Enfim... Ninguém quer saber dessas coisas.


Post #142

Para mim não sobrou nada.
O que me consola é a viola.
Como eu não sei bater bola.
Eu só ouço B Fachada.

Criou asas, voou distante.
Procurar verdade.
Encontrar sinceridade.
Em corpo de uma amante.

Aqui fico desolada.
Já vi que homem não presta.
Notei agora o que me resta:
Para mim não sobrou nada.

E pensar que eu quis casamento.
E eu nunca olhei para o lado.
Agora eu só lamento.

O outro que se encontra parado.
Não se move com o vento.
Quer é ser meu namorado.

Post #141

Queria viver no mesmo mundo que o seu.
Queria que isso não tivesse fim.
Mesmo sabendo que não é para mim.
Fico aqui perdido no meu.

Distante é o seu amor.
E o meu está aqui parado.
Sofro ao não ser amado.
Sem vida. Sem calor.

Escrevo já com indiferença.
Meu cotovelo não para de doer.
Já não quero sua presença.

Agora de ti quero correr.
Fazer de mim a ausencia.
E não precisar morrer.

Post #140

"(...) Mas toda vez que você está perto de mim,
Eu esqueço tudo te olhando sorrir,
E tudo soa como música até a hora em que você me beija no rosto,
E outro adeus me diz...

Tento me dizer que talvez seja melhor assim,
E que talvez teu mundo não tenha lugar pra mim (...)
"

Dance of Days - Balada do Corcel Verde Velho

sábado, 12 de junho de 2010

Post #139

Imaginei-nos em um campo.
Com paisagens floridas.
Roubaria um carro por você.
Ou um bilhão de margaridas.

Imaginei-nos deitados no céu.
Olhando as formigas da grama.
Eu te compraria o mundo todo.
O chato é que me falta grana.

Imaginei-nos em um dia de calor.
Em que o "te amo" fez-se lembrete.
Seu narizinho sujei - por amor.
Com o seu delicioso sorvete.

Imaginei-nos nos anos 30.
Em que pra ti fazia serenata.
Mas nisso aí eu era pobre.
E não te dei nem anel de prata.

Imaginei-nos muito ricos.
Sendo rico era infeliz.
Eu era um completo babaca.
E você uma pobre meretriz.

Imaginei-nos juntos na chuva.
A gente estava bem, feito criança.
Eis que estendi a mão à você.
E assim começamos uma dança.

Imaginei-nos sorrindo hoje.
Em pleno dia dos namorados.
Onde tudo o que fizemos.
Foi ficarmos abraçados.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Post #138

Eu resolvi mudar o visual do blog. Com tantas opções acho que vou acabar mudando várias vezes. Enfim, foda-se. :)
São 00:30h do sábado (12/06). Dia dos namorados. Eu não quero falar sobre isso.
Eu ando meio sem idéias do que escrever, nem vontade eu tô sentindo, na verdade. Há pouco, eu tava me sentindo alguém bastante feliz, com algumas coisas que acontecerão comigo. Depois de um tempo eu comecei a pensar numas coisas que acabaram me deixando meio... confuso, triste, bolado... Sei lá. Só sei que tô me sentindo assim agora. E ai, espero que minhas suposições estejam erradas, né.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Post #137

Eu não tô com sono e tenho que acordar cedo. Eu quero escrever mas eu não tô conseguindo. Tem bastante coisa sufocando a minha garganta, pedindo para que saiam, mas que eu insisto em deixar guardado no peito. Ainda me faço forte para o que não preciso. Ainda não perdi o medo dessa tal coisa. Faço vista grossa e digo que está tudo bem. Faço vista grossa e digo que eu não sei porque eu fico triste. Ai, como sou besta.

Post #136

Nasci mais pesado que o normal.
Numa pequena cidade do norte.
A minha vida eu criei na capital.
E já pensei tantas vezes em morte.

Com seis anos não saía da saia,
De bolinhas que mamãe usava.
Com dezessete não mudei - paia.
E de desgosto a mamãe chorava.

Eu sempre fui o mais gordinho.
E de tão chato vivia reclamando.
O dinheiro de papai - tão suadinho.
Morria nas mãos de Seu Orlando.

Eu era uma criança feliz.
E eu nunca quebrei um braço.
Nunca quebrei o nariz,
Mas sempre quis ir ao Espaço.

Eu era um menino bem esperto.
E sempre gostei de curtir um som.
Até hoje sou um garoto certo.
Que ainda sonha em ser Mestre Pokémon.

Eu sempre ficava pra trás.
Atrás de todos vocês.
Ali, eram crianças más.
Pois bicicleta, só depois dos dezesseis.

Do amor, aos dez, sabia o enredo.
E desde aí eu sou tímido.
Gostava das gurias em segredo.
Mas, com dez anos, não havia sofrido.

Eu era um menino estranho.
Era mesmo dentuço e gordão.
Seria horrivel se fosse fanho.
E isso me partia o coração. (mentira, eu nem ligava)

Talvez eu continua depois.
A noite hoje está bem fria.
Ninguém quer ficar lendo.
A minha autobiografia. :*