quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

'Meu pai', assim como a canção

Eu sei que a gente nunca teve muita ligação.
Mesmo sempre morando dentro da mesma casa.
Quando eu voltava da escola sem animação.
Nunca corri pra debaixo de sua asa.

A gente nunca dividiu nenhum segredo.
E, na minha infância, nunca fomos muito amigos.
Eu até hoje não sei do que cê tem medo.
Mesmo tendo enfrentado vários perigos.

Quando eu tinha lá meus quinze anos de idade.
Eu chorava no quarto por não te conhecer direito.
Eu andava pelas ruas de Santa Felicidade.
Tentando consertar o meu pior defeito.

São incontáveis as vezes em que eu pensei em morrer.
Pela falta que sentia de um abraço do senhor.
Sinto que falta pouco pra sua vista escurecer.
E eu não quero provar deste amargo sabor.

Queria que cê tivesse uma vida longa e saudável.
Mas penso que sua partida está se antecipando.
Com o passar do tempo, tornei-me alguém mais amável.
E agradeço por, da minha mudança, você ter participado.

Hoje em dia a gente até que troca uma ideia.
Amo quando abre a porta do quarto pra me contar piada.
Sinto orgulho quando digo que cê era da boleia.
E que, desse Brasil, cê conhece cada estrada.

Hoje, ao colocar música para eu ouvir.
Ao ver seus olhos carregados não pude suportar.
Sem querer a gente ao mesmo tempo começou a rir.
E um abraço no meu velho eu tive que dar.

Fico pensando o que farei depois que você se for.
Apesar da sua ausência na infância, eu amo você.
Para te dizer essas coisas eu teria que ser ator.
Pois há vergonha dentro de mim, apesar de não parecer.

Queria que o senhor lesse essas linhas que te escrevo.
Mas sua visão já está falha e bem cansada.
Fico contente por ter te ensinado o que é relevo.
E por ter te apresentado uma namorada.

As palavras me faltam pra terminar seu poema.
E você só vai ler quando eu lançar meu livro.
Quando as coisas apertarem, peço-te, não tema!
Pois o senhor mesmo me ensinou que ninguém é de vidro.

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