quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

quase coadjuvante

eu não li um livro novo. eu não assisti a um novo filme. eu não saí de casa pra passear. eu não fiz nada do que queria. oito e meia da manhã da quarta feira de cinzas. em curitiba, o carnaval todo foi cinza. dentro da minha cabeça tudo é cinza.
percebi que não sou uma pessoa interessante. vai ver eu tenha demorado pra cair na real quanto a isso. sou gordo, cabeludo, fumo e tenho um bigode. o mais perto de ser interessante que eu chego é do ridículo. talvez eu escape muito bem dos beijos de menina, mas não escapo dos dedos que apontam na minha direção que gritam meu nome me chamando de tosco.
não sei nem mais escrever. acho que foi a vida que me deixou assim. de vez em quando sinto um puta aperto no peito. não beijo ninguém há meses. e vocês sabem como eu gosto de trocar beijos. não conheço alguém novo há meses. vou sempre aos mesmos lugares com as mesmas pessoas (que incansavelmente tentam me aliviar desse fardo que tem sido viver - obrigado, pessoas. eu amo vocês!). 
às vezes sinto saudade de gente que não me olha mais no olho. mas logo passa porque eu aprendi a não me importar tanto com elas agora. tenho sentido apenas os anos indo embora e eu sentado num tronco de árvore no meio do nada esperando o que vem depois. sei lá. não sei dizer ao certo quando foi que a vida começou a perder a graça - que patético...
sempre levo as coisas para o lado sentimental. quieto no meu canto, apodrecendo com o passar do tempo, me sinto sozinho. como disse, há meses não beijo uma boca, e isso faz muita falta pra mim. por trás desses dentes tortos e amarelados há um coração quase petrificado bem danificado pela fumaça do cigarro que, acredito, não chega nem aos quarenta e sete anos. estou na rua todo fim de semana pra ver se esbarro com alguém sem querer e derrubo sua cerveja. "seu idiota! não olha por onde anda?", eu imagino que ela gritaria pra mim. sem saber onde enfiar a cara, então, eu lhe pago outra cerveja e começamos a conversar. uma noite, talvez uma manhã, o que vier está ótimo. mas eu preciso aprender que a vida real é brutal, nada parecida com o filme que escrevo no quarto todos os dias.
pensando nisso tudo, pego-me chorando mais uma vez. onde foi que eu errei? esmurro as paredes na tentativa incessante de acabar com essa angústia mas, por deus, que merda é essa que eu me tornei?

2 comentários:

  1. Apesar do seu texto nao ser um retrato fiel de mim, me vi em muitos cantos. desinteressante. Viver perdeu a graça. Aceitar a realidade brutal. Parece que tudo que eu tinha era uma ilusão infantil: tiraram-na de mim, sobrou-me nada.

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  2. Apesar do seu texto nao ser um retrato fiel de mim, me vi em muitos cantos. desinteressante. Viver perdeu a graça. Aceitar a realidade brutal. Parece que tudo que eu tinha era uma ilusão infantil: tiraram-na de mim, sobrou-me nada.

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