sábado, 3 de julho de 2010

Post #165 (#152 Pt. XII)

O nosso primeiro dia morando juntos foi maravilhoso. Eu estava com um medo enorme que nossas vidas se transformassem em cruzes para carregarmos sem querer, como se vê por aí com tanto casal. Eu me via disposto a levar isso à diante pra sempre, só tinha medo de que para ela, alguma coisa mudasse. Apesar dela me dizer coisas legais a todo momento e me fazer cafuné quando eu pedia, eu sentia insegurança ao tocar no assunto "nosso futuro". Talvez fosse mais uma atitude previsivel do meu pessimismo, coisa que eu já deveria ter esquecido há tempos.
A minha vida, coincidentemente depois da vinda de Bárbara para minha casa, só melhorou. Eu até recebi um aumento no meu trabalho e uma proposta de desenhar para uma revista bastante conhecida no país. Acabei recusando, porque eu era meio com o pé atrás com essas coisas de televisão em papel. Prefiro não saber nada do que ver as coisas com a visão deturpada que as revistas me passavam. O fato de eu ter recusado e continuar ganhando meu sustento mínimo, não tiraram o fato de minha vida estar indo muito bem. Aprendi até a conversar com as pessoas do meu trabalho e aos poucos fui fazendo amigos. Estranho, depois de três anos convivendo com elas eu começo a trocar um cumprimento diario. Eu sempre as via como pessoas estranhas, julgava-os pelas suas caras que chegavam todo dia. Ouvi-os cochichando, achando estranho essa minha mudança brusca de humor.
No trabalho de Bárbara também. A sua simpatia contagiante trazia admiradores de livros. Como era a melhor funcionaria, era como se fosse a preferida do chefe, conhecido como "Seu Fachada". Seu Fachada, quando saía, deixava o comando em mãos de Bárbara, ela era a única em que ele depositava sua total confiança. E pensar que trabalhar em um sebo nunca havia passado pela cabeça dela. Diferente de mim, Bárbara já tinha amigos no trabalho. Todos a cumprimentavam e a adoravam. É impressionante como ela poderia ter se apaixonado por mim, alguém tão diferente dela.
Certo dia no trabalho, Seu Fachada convidou Bárbara para a festa de sua criança de quinze anos. Era uma menina que acabara de conhecer o amor e estava apaixonado por um menino de sua classe. Bárbara sempre gostou de festas de aniversario, principalmente as de quinze anos que eram coisas grandes e sempre chovia de gente falsa. Aceitou o convite sem pensar duas vezes. Ao chegar em casa, esperou a minha chegada para que pudesse me contar que iriamos a uma festa. Cheguei tarde naquele dia, veio logo me perguntando:

- Por onde você esteve?
- Fui ao sebo onde trabalha agora...
- Mas você sabe que eu saio antes das sete horas.
- Não fui por você, fui, finalmente, comprar aquele disco do Cartola!
- Então tudo bem. Tenho uma coisa para te contar.
- Conte-me!
- S. Fachada nos convidou para uma festa de aniversario de sua filha e eu disse que a gente iria.. Tudo bem para você, querido?
- Oh, claro... Por que não? Quando vai ser?
- Dia seis de julho. Exatamente uma semana antes do seu aniversario.
- Juro que até tinha esquecido do meu aniversario.
- Está cansado do trabalho? Sente-me que vou lhe preparar uma sopa que minha mãe me ensinou a fazer.
- É por isso que eu gosto de você. Você lê a minha mente sempre.
- Pare de me mimar, seu besta!

Com a minha vida indo bem do jeito que estava, não vi motivos para recusar aquele convite.
Fiquei esperando o dia da festa mais feliz ainda, afinal, finalmente havia conseguido comprar o disco do Cartola. Quando o assunto era música, me sentia avô de Bárbara. Gostava de sambas dos anos 30, enquanto ela gostava de umas bandas dos anos 90. Ela não se importava quando eu ouvia Cyro Monteiro, assim como eu não me importava com ela ouvindo Soulside na mesma vitrola. Eu gostava das coisas que ela ouvia... Aliás, eu gostava de tudo nela.

continua...

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