quarta-feira, 14 de julho de 2010

Post #171 (#152 Pt. XVIII)

Bárbara não sabia cozinhar. Ela, assim como eu, era um desastre na cozinha. A gente comia fora quase todo dia, porque nem ela aguentava comer sua comida. Eu, sendo pior que ela, nem me atrevia a chegar perto do fogão. Quando comíamos em casa, eram sempre porcarias, como pizza. Quem tinha sempre a ideia de comprar essas coisas era ela. Detesto comida chinesa. Eu era obrigado a fritar um ovo quando ela pedia esse tipo de coisa. Gorda!
Numa noite dessas, estava trovejando muito e o vento fazia muitas folhas colarem em minha janela. Era sexta feira. A chuva era tão intensa que Doyle se encondia em baixo das pernas de Bá - me sentia tão dezessete chamando ela assim. Ela teve uma ideia tão brilhante que senti vontade de beijá-la. Vendo eu e ela, juntos, assistindo filme e comendo porcaria todo fim de semana, olhava para o Doyle e ficava se perguntando o que ele pensava. Olhava para aquela coisa de pelos, gorda e preta com manchas amarelas e perguntou:

- Por que o Doyle não tem uma gatinha?
- Nunca tentei apresentá-lo para uma. Não sei, eu me sentia tão sozinho que ia morrer de ciúmes vendo ele com um amorzinho assim.
- Você poderia muito bem tentar fazer isso. Agora que você me tem ao lado, quem morre de ciúmes é ele. O que acha?
- Eu não sei. Ele parece feliz, brinca com a lã, arranha minha perna, ronrona e come bem. Acho que não é a hora dele arranjar uma mocinha com pelos.
- Você é muito idiota, viu?!

Depois dessa maneira maravilhosa de referir-se à mim, olhamos os dois para o Doyle lambendo o braço dela enquanto trovejava forte lá fora. Lembram dos filmes ruins? Ainda estavam em casa. Passamos mais aquela noite fazendo a mesma coisa, até que dormimos ali mesmo, novamente. Sábado a gente não ia ter o que fazer. Era folga de Bárbara e não planejamos nada, resolvemos andar pelo centro, já que ela estava precisando de sapatos novos. Aproveitei o embalo e resolvi fazer o mesmo. Eu teria comprado o sapato, se não tivesse antes comprado um disco do Velvet Underground, importado e de prensagem original. O preço de um sapato. Posso andar descalço agora.
Enquanto íamos até a loja que ela queria, encontramos o tal amigo dela na rua. Era um rapaz bem arrumado, bonito, tinha barba e cara de que fazia qualquer moça cair aos seus pés. Cumprimentei-o sem muita emoção enquanto éramos apresentados por ela:

- Artur, esse é o Glenn. Glenn, Artur...
- Como vai?
- Muito bem e você, Glenn?
- Vou bem... Vou bem.
- Ótimo. Como foi que você conheceu a Babi?
- Babi...? - já com sangue nos olhos.
- É, bem... - meio confusa, parecia transtornada - a gente precisa ir agora. Até mais, Artur!
- Tudo bem - rindo ironicamente - até mais, Babi. Tchau aí, cara!

Alguma coisa me invadiu na hora. Eu não gostei do olhar que siau dos seus olhos em direção aos olhos dela quando falou "Babi". Senti bastante ciúme na hora, senti vontade de quebrar os dentes brancos que aquele cara tem. Olhos azuis, pff... O que as pessoas tanto gostam nisso? Esquecemos dele, esfriei a cabeça e fomos atrás de seus sapatos. Eu adorava o fato dela não fazer cerimônia para comprar. Pegava o que lhe agradava e não ligava para marcas. Com o dinheiro que lhe sobrou, acabamos comprando chocolates e pegando mais um filme. Eu precisava de um video game...

continua...

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