quarta-feira, 7 de julho de 2010

Post #169 (#152 Pt. XVI)

Sexta feira, um dia antes do meu aniversário, Bárbara conversava com S. Fachada para ver o que iria ser feito para mim. S. Fachada ficou triste em ver que teria compromisso no dia, não pôde fazer nada e ficou triste ao saber que eu novamente iria ficar sem uma comemoração. Bárbara ficou desolada, ela queria só me agradar e me dar o que eu nunca tive na vida. Aquela sexta feira foi marcada por uma noticia muito boa: Eu não precisava ir ao trabalho segunda feira. Isso só deixou minha sexta feira, meu último dia de vinte e oito anos, melhor. Como era o dia em que Bárbara saía mais cedo do trabalho, fui buscá-la no sebo para que pudéssemos passear um pouco. Comemos fora e depois alugamos filmes ruins para ficar assistindo a noite toda. Pareciamos duas crianças tirando o audio e redublando aqueles filmes. Dávamos gargalhadas estridentes e Doyle reclamava sempre de nós. Cortamos a madrugada fazendo isso, até que dormimos sem perceber.
Chegou o sábado. Dia 13/07; meu aniversário. O dia amanheceu normal, como qualquer outro e Bárbara não me deu parabéns. Não reclamei. Fiquei imaginando se ela tinha esquecido disso. Seu expediente começava ao meio dia, então ela fez seu café e estava na sua vez de usar a vitrola. Não a perturbei e resolvi ir ao quarto para escrever alguma coisa. Quando abri a porta do quarto, ouvi a voz de Bárbara cochichando algo. Fui de fininho ver o que estava acontecendo na sala, eis que me deparo com ela conversando com o Doyle, fazendo gestos, como se estivesse impondo condições ou dando ordem ao gato. Aquilo me assustou, mas me alegrou ao mesmo tempo. Morri de rir vendo ela fazer aquilo, mais ainda de ver ela tentando se explicar. Peguei meu café e ela desceu para ir ao trabalho. Não aguentava mais escrever, fiquei na sala junto de Doyle para ouvir, pela primeira vez, meu disco do Cartola. Juro para vocês, caros leitores, que quase chorei ao ouvir "Acontece" com aquela voz maravilhosa que só o mestre Cartola tinha. Doyle, quando gostava do que ouvia, dormia em meus braços, coisa que se repitiu mais uma vez. Eu tinha um gato sambista.
A tarde estava se acabando e não recebi nenhum telefonema me parabenizando. Minha desilusão cresceu consideravelmente. Bárbara chegou feliz, me deu um beijo, mas não comentou nada sobre o dia. Pegou o Doyle no colo e praticamente me expulsou de casa:

- Sai! Eu e o Doyle temos muito para fazer.
- O que é?
- Sai logo, poxa!

Peguei um livro de Bukowski e saí, já que estava sendo expulso de minha propria casa pelos amores de minha vida. Eu desci e comecei a me perguntar o que ela estava aprontando. Disse para eu voltar em cerca de meia hora. Minha curiosidade era notavel! Eu estava ansioso, eu odiava surpresas ou que escondessem as coisas de mim. O que será que ela teria para fazer no meu apartamento que eu não pudesse saber? Quando deu o horario, voltei para casa. Abri a porta lentamente, e as luzes estavam apagadas. Acendi e não pude acreditar no que via. Bárbara com Doyle nos braços, atrás de uma mesinha com um bolinho em cima e na parede havia um papel crepom escrito "Parabéns, querido!" de uma forma muito feia, improvisada, como se tivesse sido feito na hora - e tinha mesmo.

- Surpresa, amor! - sorrindo, de maneira encantadora.
- Ah, eu não posso acreditar nisso! Você fez isso tudo sozinha?
- Negativo. Sem o Doyle nada disso teria sido feito. Ele ajudou a escolher a cor do papel e o sabor do bolo. Espero que tenha gostado, a gente deu um duro danado para fazer tudo isso para ti!
- Você é inacreditavel! - lacremejando - Eu não acredito que tenha feito isso por mim.
- Na verdade, na verdade, eu iria fazer algo maior com a ajuda de Fachada, mas ele teve um imprevisto, então eu tive que fazer tudo isso sozinha.
- Miau! - sim, ele miou na hora. Ele era mais esperto que eu.
- Digo, com a ajuda dessa bola de pelos!

Eu não me importava com os outros anos que eu teria pela frente. Nenhuma festa de aniversário que eu futuramente pudesse ganhar, teria um valor sentimental tão grande quanto essa. Nunca imaginei que alguém iria realmente fazer isso por mim. Minha admiração por essa moça de cabelos lindos e sardas que pintavam seu rosto só sabia crescer. Eu amava Bárbara cada dia mais e ela sabia disso. Já não conseguia viver sem ela ao meu lado. O bolo não foi ela quem fez, comemos boa parte dele e depois fomos ver mais alguns filmes ruins. Eu amava beijar aquela testa toda noite antes de pegar no sono...

continua...

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