terça-feira, 22 de junho de 2010

Post #154 (#152 Pt. III)

Eu dei o meu telefone para ela na esperança de que ela me ligasse. Não pedi o dela porque eu sabia que não iria ter coragem para discar os números. Eu sempre odiei telefone, nunca me dei bem com essas coisas, achava minha voz horrível e tudo mais - aliás, eu achava tudo em mim horrível. Fui até a cozinha, preparei mais um chá e sentei-me novamente em minha poltrona esperando pela ligação de Bárbara. Esperei por longos dez minutos, até que o telefone tocou. Eu conversei com tanta facilidade que fiquei até impressionado comigo mesmo. Juro que não pensava que me sairia tão bem falando ao telefone com alguém... Alguém como ela, é claro. Marcamos de nos encontrar sábado à tarde para comermos juntos e nos conhecermos melhor. Eu ficava cada minuto mais ansioso.
Chegando àquele sábado, eu levantei como se eu fosse o cara mais sortudo do mundo. Se nada que eu havia planejado ou pensado chegasse a se concretizar, eu já estaria satisfeito com a atitude que tomei de ir falar com Bárbara pela primeira vez - tudo bem, foi no trabalho dela, se fosse na rua provavelmente iria passar batido. Resolvi mudar. Ao invés de chá, preparei um café fortíssimo e ouvi Orlando Silva a manhã toda. Tanta inspiração servia como um combustível a mais e o mais legal disso é que eu estava super confiante. Tomei o banho mais longo da minha vida e coloquei a minha melhor roupa - coisa brega e nada na moda. Saí de casa ao som de pássaros cantando, desci as escadas dançando, o meu coração estourando, e as flores à mim sussurando coisas legais que traziam harmonia à alma.
Cheguei lá e ela estava virada de costas para a porta. Roubei uma singela margaridazinha e cheguei todo tímido - eu realmente não sabia o que fazer - ela levantou e cumprimentou-me:

– Oi, Glenn. - disse-me com aquele mesmo sorriso encantador.
– Olá. - em tom meio baixo.
– Então... Você vem muito nesse lugar?
– Negativo. Gosto de vir aqui em ocasiões, digamos, especiais.
– Tipo quais?
– Não sei. Essa é a primeira vez.

Depois dessa cantada inventada na hora, Bárbara olhou para o fundo dos meus olhos, como se quisesse me esmagar, ou me abraçar até morrer. Pelo menos era o que eu gostava de acreditar. Conversamos até mais ou menos onze horas da noite, que foi quando o restaurante fechou. Cometi uma gafe tremenda que não quero pôr em linhas. O importante disso é que Bárbara riu como nunca havia feito na vida - segundo ela mesma.
Quando saímos de lá, resolvi dar uma de cavalheiro de levar ela até sua porta. Enquanto caminhávamos, fomos conversando mais e nos conhecendo cada vez mais. A gente até arriscou alguns passos de dança sob aquela neblina densa, onde ninguém nos via - só fizemos isso justamente porque ninguém nos via - rimos feito dois idiotas e demoramos muito tempo para chegar. Quando lhe deixei, ela sorriu - ai meu Deus, como eu adorava esses sorrisos - e disse:

– Obrigada pela noite. Você é mais interessante do que eu pensava!
– Como assim "do que eu pensava"?
– Desculpa, mas meu gênero instrospectivo não vai me deixar falar mais que isso. Já estou espantanda de ter aceitado seu convite.
– Tudo bem. Acho que te entendo, também tenho esse lance todo quieto e tal... Espero te ver novamente.
– Bem, eu tenho seu telefone e você sabe aonde eu trabalho e fico o dia todo. Então... Oportunidades não faltarão!
– Ficamos combinados então. Qualquer coisa me ligue.
– Ligo!

Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ela deixou cair sua boina - propositalmente? - ao meus pés. Fui obrigado a devolver-lhe. No ato, ela desceu as escadas e me abraçou com força, me deu um beijo na testa e depois ficou envergonhada. Foi a coisa mais bonita que fizeram para mim em vinte e oito verões...

...continua

3 comentários:

  1. Sensacional man, curioso para vê o resto!

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  2. Agradecido! :)

    Espero que goste do restante, apesar de eu não fazer ideia de como vou terminar isso.

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