sábado, 19 de fevereiro de 2011

Perdida

E como começar a escrever coisas vazias e totalmente sem préstimo algum? Coisas que ninguém teria a real pachorra de ler nem se quer uma única linha. Coisas que enfatizam o quão ruim a vida de uma pessoa pode (parecer) ser. Ler sobre catástrofes pessoais, sobre tragédias internas, brigas mesquinhas vindas de mim para mim mesmo. Como começar a escrever sobre coisas banais que envolvam só a minha pobre pele suja, áspera e asquerosa que rasteja no chão feito um lagarto gordo? Como começar a escrever coisas sobre a alma de alguém que não tem vida? Alguém que sofre por nada e acha que assim é certo. Alguém que vê além das aparências e se engana? Pff... é muita perca de tempo escrever sobre uma pessoa que vive desse jeito. Que se descreve da maneira mais pejorativa possível, talvez para ganhar um pouco de atenção enquanto se afoga no egoísmo. Simplesmente não entendo como conseguem fazer isso sem parecerem idiotas. Talvez cada um de vocês esteja sofrendo e querendo um colo para reclamarem, tal como eu queria agora.

Tudo isso começou quente e cinza, como de costume. Enquanto abria os olhos, sentia o cheiro da chuva que caía e molhava minha janela. Tenho muitas manias, uma delas é a de achar qualquer coisa inútil uma maravilha - uma dessas maravilhas era justamente ver as gotas correrem os vidros. Meu pijama tinha grossas listras em tons diferentes de verde. Era minha cor favorita e aquilo fazia eu parecer uma pessoa menos esquisita. Meu quarto, quando chovia, ficava mais escuro do que o normal. Era o lugar que eu mais gostava de estar quando me sentia frágil às coisas que me rodeavam. Meu travesseiro é macio. Ele gruda minha cabeça nele, como se estivesse apaixonado e não quisesse perde-la, mesmo sabendo que voltaria para seus braços todas as noites. Antes de levantar, costumava estralar as costas. Era uma ótima sensação. O som dos meus ossos agradava demais meus ouvidos que, à noite, só sabiam ouvir minha própria boca falando mal de mim. Calço meus chinelos e vou ao banheiro. Faço minha barba enquanto tomo banho, não tenho nenhum pingo de vaidade depois que um trágico fato me aconteceu. Na garganta descem de mãos dadas um gole de café amargo e uma mordida de pão-com-manteiga. Todas as minhas manhãs de dia de semana eram assim e eu não tinha muito do que reclamar.

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