sábado, 19 de fevereiro de 2011

Perdida (Part. II)

Todos os dias antes de sair de casa, regava plantas que ficavam dentro de um pote preto, em cima da minha mesa da cozinha. Como morava sozinho, era alguma coisa a mais para eu me comprometer a fazer... além de ser a única coisa viva que eu deveria ter cuidado. Não gostava de carregar minha chave comigo. Sempre me senti inseguro em relação à isso. Por isso, a deixava em baixo do tapete da entrada. Um tapete muito ridículo, diga-se de passagem. Uma cópia barata de tapetes americanos onde estava escrito "wellcome". Devo conferssar que só gastei dinheiro naquela porcaria por causa desse erro grotesco. Ele era um diferencial e eu gostava de coisas idiotas.

Eu gostava do meu trabalho. Era professor de um escola que havia perto de onde morava. Dava aula para crianças de onze e para adolescentes de 16 anos. Ensinava um pouco de português para eles. Não gosto muito de falar disso pois nunca me achei alguém muito esperto. Meu cérebro de ervilha era limitadíssimo e sempre deixava escapar alguma informação que era importante àquelas pessoas. Sempre tinha alguma menina das carteiras da frente me corrigindo. Acho que meu jeito sonso e meio 'foda-se' era o que me diferenciava dos outros professores daquele lugar. Meu alunos realmente me adoravam e eu gostava demais disso.

Como eu morava perto de onde trabalhava, sempre ia de bicicleta à escola. Eu colocava fones de ouvidos e gostava do que fazia. Foram 20 anos fazendo isso, de segunda a sexta, sem faltar uma vez se quer. Era bem aplicado... a formiga operária mais aplicada que o Estado tinha em mãos. Eu me orgulhava disso, mas no fundo eu sabia que não deveria fazê-lo. Em casa, novamente, às nove da noite, tudo o que sabia fazer era fritar umas batatas fritas e comer com um copo grande de chá gelado. Nunca fui um grande chefe de cozinha e nunca soube fazer muitas coisas, comida congelada era sempre o que tinha no meu cardápio pessoal. Ninguém reclamava, afinal, eu jantava sozinho todas as noites. Minhas namoradas gostavam da minha comida, mas sempre reclamavam da minha companhia. Por conta disso vivo sozinho hoje, sem ninguém ao meu lado. Relacionamentos rápidos sempre vêm e vão, não nasci para essa coisa de ficar junto a vida toda. Mas a verdade sempre dói, e dizer que viver sozinho é meu penar, é o que corta fundo meu coração vazio. Dizer que viver sozinho é bobagem, ao mesmo tempo, é mentira. O que escrevi não tem muito sentido, mas se você mente para si mesmo, todos os dias, dizendo que está bem, talvez tenha entendido bem o que as últimas linhas trouxeram até você.

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