sábado, 6 de novembro de 2010

Post #210 (#152 Pt. XXIII)

Passaram-se alguns meses que Bárbara havia me deixado. Larguei meu emprego e vivi boa parte do tempo fazendo caricaturas na porta do prédio onde eu morava. Tive sorte, vendia cada uma por um preço meio alto mas sempre conseguia dinheiro. Consegui viver bem com esse dinheiro. Em casa as coisas estavam cinza demais. Doyle miava agoniado a falta de uma peluda, eu não sorria mais como quando ela estava aqui perto para me fazer cafuné. Não sabia onde ela estava e nunca mais tive vontade de ir ao sebo onde trabalhava. Seu Fachada não me telefonava nem para tomar café na sua casa. Foi o período mais solitário da minha vida. Tinha horas onde eu me perdia e me achava olhando para as fotos, passando os dedos em seu rosto, enquanto lembrava de toda a nossa história. O cheiro do seu café exalava tão forte que dava vontade de beber. O gosto da comida horrível que ela fazia me dava fome. Com a merda que tinha feito, aprendi a amá-la mais ainda, cada hora que passava, a cada volta de ponteiro eu me arrependia mais de ter saído do controle naquela noite. Não entendia como tinha conseguido ser tão idiota.
Numa certa quinta-feira, a minha vontade de procurar por ela e tentar pedir desculpas explodiu dentro de mim, fazendo eu levantar da cama com nenhuma vontade de desenhar, mas sim, de buscar novamente o amor da minha vida. Doyle estava gordo. Parecia aqueles velhos rabugentos que depois que casam ficam mais rabugentos ainda. Não queria ir à janela, não queria ir ao meu colo, queria só saber de dormir e comer. Ele era a coisa mais importante na minha vida, então.
O dia era 16 de setembro. Fazia um calor atípico para a data e, não sei porquê, eu estava adorando aquilo. Sempre achei um erro da minha parte pensar positivo a respeito de alguma coisa. Sempre achei que se fizesse isso, tudo daria errado pra mim. Odiava mais isso do que aquelas pessoas que falam mal de você e depois pedem para que você leia a coluna dela no jornal.

juro que continua...

Um comentário:

  1. doeu meu coração. :(
    achei linda essa coisa de passar o dedo no rosto, é tão "todo mundo já sentiu e fez isso".
    sem contar que fechou com chave de ouro o post com essa frase da coluna no jornal.

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