quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Me faria um bem sair desse mundo de trapaceiros

Não quero mais acordar no dia seguinte
Sentir o cheiro podre do machismo ainda
Imperando pelas ruas do meu bairro.
Não quero viver num lugar onde a polícia
Atira pra matar em toda viela da minha
Periferia.
O mundo é um péssimo lugar e eu já não
Tenho nenhuma esperança de que um dia
Essa merda toda vá mudar. E pensar nisso
Me consome. Consome meu tempo. Consome
Minha vida. É por causa disso que eu quero
Sair de uma vez dessa jogatina fétida que é
Viver.
Quero chegar até o posto da esquina do Mariano
Comprar doze litros de gasolina e beber na frente
Dos olhos dos frentistas. Quero morrer ali mesmo.
Sem luxo, só o lixo. Quero chegar no mercado
E comprar uma gilete para fazer a barba. Chegar
No caixa para pagar e rapidamente cortar a garganta
Sangrar por todo o corredor dos enlatados e ver
A moça que opera o caixa chorando desesperada.
Sinto vontade de aprender a dirigir apenas com
O intuito de pegar os cento e vinte na Manoel
Ribas e acabar, com sorte, acertando um Ligeirinho.
O foda é que eu acabaria causando estrago para
Outras pessoas. E eu não quero isso. Porque elas,
Tão diferentes de mim, têm vontade de continuar a
Viver nesse mundo sujo.
Aborta a missão. Vai comprar pão. Faca no coração.
Caminho até o viaduto que tem perto da Rodolatina
E ensaio um salto - literalmente - mortal.
Acabo caindo na frente de um caminhão carregado
De cimento. Sem tempo. Sem tempo pra lamento.
Meu corpo é dilacerado pela rodovia e ninguém
Parece se importar. É como se eu fosse só mais
Um cachorro velho que perde a vida para as rodas
Gigantes daquele veículo.
Acordo do pesadelo - ou será do mais belo sonho?
Percebo que é só mais um dia onde tenho que
Ir para a faculdade. Dizendo bom dia para os cobradores
E recebendo como troco a cara de ódio e desprezo.
Bom dia pra quem, sem otário? SEU OTÁRIO!

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