quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Soterrado de cimento


Havia um bom tempo que não passava a tarde coberto por essa avalanche de pancadas na cara. Eu não estava sentindo saudades disso. Meus horários se inverteram de repente e eu ainda não me encontrei. Queria poder contar que eu me sinto bem, porém, de vez em quando a ferida ainda abre. Peço desculpas. Não quero mentir pra ninguém.
Passei a odiar duramente o meu trabalho. De uma forma quase tão intensa quanto odeio a mim mesmo. Tudo tem ficado feio e desorganizado. Não aguento mais anotar códigos, DOT’s ou números de fogo. 27. 71037894. DOT 2008. Ah, vão tomar no cu.
Tem vez que eu tô no corredor da parte de fora varrendo. Olho pro céu que me revida o olhar com muita frieza - tá cinza, vai chover e molhar o pó que varro. A moça da cozinha passa por mim e não me dá boa tarde. Olho as árvores que me acenam como se reprovassem o que estou fazendo - estou varrendo muita formiga, sem querer até piso em algumas. Isso me entristece de uma maneira tão aguda…
Porra, tem dias que ir pro trabalho é uma bosta.

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